Jornal diz que presidente do Paraguai sabia dos termos de acordo sobre Itaipu

Trocas de mensagens reveladas pelo ABC Color mostram que líder foi pressionado pelo Brasil a aceitar a ata

  • Por Jovem Pan
  • 06/08/2019 13h38 - Atualizado em 06/08/2019 14h04
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Antonio Cruz/Agência Brasil

Uma suposta troca de mensagens entre o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, e o então diretor da estatal energética do país, Pedro Ferreira, publicada nesta terça (6) pelo jornal ABC Color, indica que o mandatário tinha conhecimento dos termos do acordo sobre Itaipu negociado com a Eletrobras e assinado em segredo em 24 de maio.

As conversas entre Abdo Benítez e Ferreira, com mensagens trocadas entre fevereiro e junho, revelam também que o líder paraguaio foi pressionado pelo Brasil para aceitar e cumprir os termos da ata sobre a venda de energia de Itaipu e pediu, ele próprio, para que o acordo fosse mantido em sigilo.

Na primeira conversa dos dois mostrada pelo jornal, em 14 de fevereiro, Ferreira afirma que “as questões sobre Itaipu causarão repercussão” e que os “brasileiros querem que o custo (paraguaio) aumente, o que deve aumentar a tarifa”. Ele diz ainda que, apesar da discrição das negociações, já havia sido contactado por um jornalista sobre esse assunto.

Quase um mês depois, em 5 de março, Abdo Benítez cobra avanços das negociações conduzidas pela Administración Nacional de Electricidad (Ande), comandada por Ferreira, e a Eletrobras. “PEDRO, apressa (a) solução (entre) ANDE (e) Electrobras(sic)”, escreve o presidente paraguaio.

“Está tudo parado. Temos que movimentar a economia e Itaipu é uma ferramenta. Não é possível ganhar tudo em uma negociação”, completa o presidente do país vizinho. Ferreira responde dizendo que faria todo o possível, mas que os termos defendidos pelo Brasil implicariam em aumentos tarifários com impacto de quase US$ 400 milhões.

Nos dias seguintes, delegações paraguaias foram ao Brasil dar prosseguimento às negociações.

Em abril, depois de o ABC Color publicar reportagem dizendo que o Brasil queria diminuir os benefícios que Assunção mantinha de negociações anteriores, Abdo Benítez enviou duras mensagens para o então diretor da Ande. “(A reportagem) me preocupa. Isso afeta nosso governo. E muito. Aqui, ninugém vai ganhar se o governo for debilitado (…) e se chegarmos a um ponto em que a negociação seja sob pressão. É preciso resolver o quanto antes”, escreveu.

Ferreira diz que colocará “todo o empenho” nas tratativas entre Ande e Eletrobras. Marito, como é conhecido o presidente paraguaio, agradece. “Aqui temos que negociar. E, ao negociar, sacrificam-se posições e, algumas vezes, princípio. Mas essa é a responsabilidade que temos hoje”, disse o escreveu o presidente. “Não acredite que eu faço tudo que quero. Todos os dias tenho que engolir bebidas amargas, mas hoje o país está em nossas mãos e acredito que está nas melhores mãos. Força!”

Com Estadão Conteúdo

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