Justiça e polícia espanhola tentam impedir votação na Catalunha, marcada por tensão
A região da Catalunha está votando neste domingo em um referendo independentista considerado ilegal pelo governo da Espanha em meio a um forte esquema policial e com várias irregularidades no modo de votação, com alguns incidentes entre agentes e cidadãos em vários pontos.
A consulta separatista convocada pelo Governo autônomo catalão em setembro, foi suspensa imediatamente pelo Tribunal Constitucional (TC) e diferentes tribunais ordenaram medidas para que as forças de segurança fechem os locais de votação e confisque urnas e cédulas eleitorais.
Cenas de violência foram registradas nas redes sociais:
No ho oblidarem mai #VagaGeneral #NoSócEspanyol #QueSenVagin #SpaniardsGoHome #1O #CatalanReferendum pic.twitter.com/bxYIROkshV
— Oriolez (@oriolescutez) October 1, 2017
Isso levou as autoridades catalãs, no começo deste domingo, a modificar as normas que tinha emitido anteriormente, de modo que um eleitor pode votar em qualquer colégio da região e não ao qual tinha sido atribuído, com cédulas impressas em casa e sem envelope.
Novas normas que para o conselheiro catalão de Presidência, Jordi Turull, configuram um processo eleitoral “com garantias” legais, enquanto fontes do Governo espanhol asseguravam que os separatistas “liquidaram qualquer vestígio de respeitabilidade democrática”.
Em alguns casos, a intervenção de policiais espanhóis e guardas civis gerou momentos de tensão com os manifestantes independentistas e, no centro de Barcelona, houve ações dos policiais contra pessoas que fechavam as ruas e, em um ou outro caso, foram jogados objetos contra os agentes.
As forças de segurança, que ontem bloquearam o centro de informática catalão, anularam hoje o novo sistema anunciado de manhã pelo conselheiro Turull.
Tudo isto torna difícil saber quantas pessoas estão participando da consulta, enquanto o Ministério do Interior apontou que, com essa falta de garantia, uma mesma pessoa poderia votar várias vezes em diferentes lugares.
Líder catalão critica “violência injustificada”
O presidente do governo regional da Catalunha, Carles Puigdemont, criticou neste domingo o que considera o “uso injustificado, irracional e irresponsável da violência” pelo Executivo espanhol e se mostrou convencido que o desejo de votar pacificamente não será impedido.
Puigdemont falou após votar no referendo de independência que ele mesmo convocou e que foi suspenso pelo Tribunal Constitucional da Espanha.
O líder catalão, que teve de comparecer a outro centro de votação porque o seu estava ocupado pela polícia e pela Guarda Civil, mencionou os incidentes ocorridos em vários pontos da região, com confrontos entre agentes e cidadãos que queriam votar.
Os agentes interferiram no processo por ordem judicial para requisitar urnas e cédulas destinadas à consulta e se depararam com a resistência de pessoas que ocupavam os centros e impediam a entrada dos policiais.
Para Puigdemont, essas imagens “envergonharão para sempre” o Estado espanhol e “não deterão o desejo dos catalães de poderem votar pacífica e democraticamente”.
As autoridades de saúde catalãs asseguraram que nos incidentes em centros de votação da região foram registrados 38 feridos, nenhum em estado grave. Os casos mais comuns são de pessoas com enjôo, crise de ansiedade e contusões.
Governo pede volta à legalidade
O ministro do Interior da Espanha, Juan Ignacio Zoido, pediu neste domingo aos responsáveis pelo referendo de independência da Catalunha que “recuperem a razão” e voltem à legalidade.
Em declarações à emissora “La Sexta”, Zoido qualificou de “injustiça” o processo independentista na região catalã em meio a uma grande tensão e com forte presença policial para apreender, por ordem judicial, o material destinado à votação, o que gerou confrontos.
Zoido exigiu que os separatistas e o presidente catalão, Carles Puigdemont, “parem esta autêntica loucura” à qual estão levando o povo catalão.
“Se queriam ter uma foto, já conseguiram. Agora, que voltem a recuperar a razão”, acrescentou o ministro, para quem as forças de segurança apenas “querem restabelecer a ordem e que se sobressaia a democracia”.
Na opinião do ministro, a volta da normalidade e da ordem à Catalunha está “nas mãos” de Puigdemont.
“Vale a pena defender o Estado de direito e que dentro do marco legal possamos buscar uma saída, mas não com a lei do mais forte”, comentou.
Zoido lembrou que no início desta manhã foram neutralizados “cerca de 70 centros de votação e foi bloqueado o sistema eletrônico para votar em uma operação marcada pela proporcionalidade”.
De acordo com Zoido, a polícia regional e a Guarda Civil espanhola encontraram situações “complicadas” e apenas em uma delas, em um centro de votação em Barcelona, precisaram utilizar métodos de defesa de forma breve e prudente em um caso de “encurralamento”.
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