Macron inicia campanha na França contra os ‘extremos’ na política

O presidente francês admitiu a “responsabilidade” no fracasso de sua aliança nas eleições europeias, que atribuiu ao fato de seu governo não ter apresentado “respostas” suficientes às “preocupações” dos cidadãos

  • Por Jovem Pan
  • 12/06/2024 15h05 - Atualizado em 12/06/2024 15h09
Christophe Ena/POOL/AFP emmanuel-macron-israel-guerra-Christophe Ena-POOL -AFP Macron chegou à presidência em 2017 com uma linha de centro, atraindo os descontentes com a alternância entre socialistas e conservadores

O presidente Emmanuel Macron pediu, nesta quarta-feira (12), a união de todos que dizem “não aos extremos” antes ou depois das eleições legislativas francesas, que ele antecipou após a vitória da extrema direita nas eleições europeias na França. “As coisas são simples. Hoje temos alianças não naturais nos dois extremos” do espectro político, disse o presidente centrista em uma entrevista coletiva, três dias depois do inesperado anúncio da antecipação das eleições para o final de junho. Macron fez referência à proposta do presidente do partido conservador Os Republicanos (LR), Éric Ciotti, de estabelecer uma aliança com a legenda de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), uma possibilidade rejeitada pela maioria dos líderes do LR e que levou à exclusão de Ciotti da formação nesta quarta-feira.

O presidente francês criticou, ainda, o acordo entre socialistas, comunistas, ecologistas e o partido A França Insubmissa (LFI, esquerda radical) de criar uma “nova frente popular”, apesar de a aliança anterior, conhecida como Nupes, ter naufragado devido às divergências entre a ala social-democrata e a ala mais radical do grupo. “Quando chegar o momento, antes ou depois (das eleições), desejo a união dos homens e mulheres de boa vontade que terão sido capazes de dizer não aos extremos”, declarou Macron, que defendeu que sua aliança de centro dialogue com outros partidos.

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Macron chegou à presidência em 2017 com uma linha de centro, atraindo os descontentes com a tradicional alternância entre socialistas e conservadores. Na reeleição de 2022, ele já se apresentou como a alternativa aos “extremos”. O governo Macron deseja atrair especialmente as pessoas insatisfeitas no Partido Socialista com a formação de uma frente unida com a LFI, legenda que Macron chamou de “antissemita” e “antiparlamentar”, assim como os conservadores do LR que rejeitam o “pacto com o diabo” da extrema direita. “Se há uma pessoa que se revira no túmulo hoje é Léon Blum”, disse o presidente, em referência ao chefe de Governo nomeado após a vitória da Frente Popular em 1936, que era socialista e de origem judaica.

Ao falar sobre o RN da política de extrema direita Marine Le Pen, ele criticou sua “ambiguidade” com a Rússia de Vladimir Putin e afirmou que o partido deseja “abandonar a Otan”. Ao falar sobre a decisão de convocar eleições antecipadas, que vários analistas consideram uma “aposta arriscada”, Macron explicou que é um “movimento de esclarecimento” político para “evitar dar as chaves do poder à extrema direita” em 2027.

O presidente admitiu a “responsabilidade” no fracasso de sua aliança nas eleições europeias, que atribuiu ao fato de seu governo não ter apresentado “respostas” suficientes às “preocupações” dos cidadãos, como no mundo rural ou no acesso dos jovens à moradia. No entanto, insistiu em seu programa de governo, baseado na “autoridade” e no controle das finanças públicas, defendeu a medida para proibir os telefones celulares aos menores de 11 anos e o acesso às redes sociais antes dos 15 anos, e confirmou que seu primeiro-ministro, Gabriel Attal, vai liderar a campanha de sua aliança.

Crise entre os conservadores

Por sua vez, a oposição de direita está afundada em uma profunda crise. O partido Os Republicanos excluíram nesta quarta-feira o seu presidente, Éric Ciotti, por ter proposto uma aliança com a ultradireita. As autoridades do LR encomendaram a Annie Genevard e ao deputado François-Xavier Bellamy, que se encarreguem da governança do partido. Além disso, o partido decidiu incluir todos os seus deputados que estão deixando seus cargos na disputa para as eleições legislativas antecipadas, exceto Ciotti e a deputada Christelle D’Intorni, que também é a favor de uma aliança com os extremistas.

As eleições legislativas, em dois turnos, acontecerão em 30 de junho e 7 de julho. A antecipação das eleições não afeta Macron, que continuará como presidente até 2027, mas ele corre o risco de ter que compartilhar o poder com um governo de outra tendência política na parte final de seu segundo e último mandato, em uma “coabitação”.

Publicado por Carolina Ferreira

*Com informações da AFP

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