Mercosul pede que Venezuela e Guiana evitem ações unilaterais que causem tensão e defende paz na América Latina
Documento assinado pelas nações pede que partes busquem o diálogo e uma solução pacífica da controvérsia para evitar iniciativas que possam agravar a disputa
Em meio à intensificação da disputa territorial entre a Venezuela e a Guiana, diversos países se uniram nesta quinta-feira, 7, para emitir uma declaração demonstrando preocupação com a situação e pedindo paz. O documento foi assinado pelas nações que compõem o Mercosul, que inclui Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, além de países associados como Chile, Colômbia, Equador e Peru. “Os Estados Partes do Mercosul manifestam sua profunda preocupação com a elevação das tensões entre a República Bolivariana da Venezuela e a República Cooperativa da Guiana. A América Latina deve ser um território de paz e, no presente caso, trabalhar com todas as ferramentas de sua longa tradição de diálogo. Nesse contexto, alertam sobre ações unilaterais que devem ser evitadas, pois adicionam tensão, e instam ambas as partes ao diálogo e à busca de uma solução pacífica da controvérsia, a fim de evitar ações e iniciativas unilaterais que possam agravá-la”, afirma a declaração.
Mais cedo no mesmo dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) expressou pessoalmente seu descontentamento com a situação entre os dois países. “Uma coisa que não queremos aqui na América do Sul é guerra. Não precisamos de guerra, não precisamos de conflito”, declarou durante a abertura da 63ª reunião de cúpula do Mercosul, no Rio de Janeiro. A Venezuela era um dos países membros do grupo, mas está suspensa desde 2017. Ele reforçou a posição do bloco como zona de paz e afirmou que nações não podem ficar “alheias” à situação. As tensões entre Venezuela e Guiana surgiram por causa da disputa da posse de Essequibo, um território de quase 160 mil quilômetros quadrados. Na semana passada o presidente venezuelano, Nicolas Maduro lançou um plano de ação para a região, que inclui a concessão de licenças para a exploração de petróleo e o destacamento de militares em cidades próximas ao território disputado, sem anunciar, por enquanto, uma incursão na região. A Venezuela insiste que esse plano foi elaborado para lidar com o resultado do referendo, no qual a maioria dos venezuelanos votou pela anexação do Essequibo ao seu território.
O presidente da Guiana, Irfaan Ali, afirmouque o plano da Venezuela representa “uma ameaça iminente” à integridade territorial de seu país e à paz mundial, e anunciou “medidas de precaução” para proteger a nação. O primeiro passo será levar o assunto ao Conselho de Segurança das Nações Unidas ainda hoje para que o órgão adote “medidas apropriadas”. Os dois países disputam há anos esse território que, em 2015, foi descoberto que é rico em petróleo. No mês passado, a Guiana anunciou outro importante descobrimento que acrescenta, pelo menos, 10 bilhões de barris às reservas do país, tornando-as maiores que as do Kuwait e dos Emirados Árabes Unidos. Desta forma, a país possui as maiores reservas de petróleo per capta do mundo e a Venezuela, as maiores reservas já provadas do planeta. Essequibo, uma região de 160.000 km² a oeste do rio Essequibo, representa 70% do território guianês e, atualmente, vivem 125 mil dos 800 mil habitantes desse país que se tornou independente. Caracas argumenta que o rio Essequibo é a fronteira natural, como em 1777 quando era colônia da Espanha, e apela ao acordo de Genebra, assinado em 1966 antes da independência da Guiana do Reino Unido, que estabelecia as bases para uma solução negociada e anulava um laudo de 1899, que fixou os limites atuais.
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