Mulheres em zonas de conflitos perdem batalha contra fome

  • Por EFE
  • 15/10/2017 13h35 - Atualizado em 15/10/2017 13h37
Divulgação/ONU/OCHA No Sudão do Sul, em fevereiro, em duas áreas isoladas, entre outros fatores, a taxa de mortalidade diária por conta da fome era de mais de duas pessoas para cada 10 mil, quatro vezes maior que o normal

A maioria das mulheres que vivem em zonas de conflitos não estão na primeira linha de batalha, mas são vítimas na retaguarda da falta de alimentos e de outras dificuldades sem que seus direitos sejam respeitados.

Foi desta forma que se expressou, em Roma, a relatora das Nações Unidas sobre o Direito à Alimentação, Hilal Elver, que em declarações à Agência Efe, pediu proteção às mulheres em situações de emergência, nas quais muitas das mortes aconteceram por conta da fome e epidemias, superando os combates.

“Os homens estão na frente e muitas vezes deixam as mulheres e crianças nas casas, onde as forças militares inimigas vão diretamente e não há escapatória para elas”, disse a especialista turca, após participar de um ato do Comitê de Segurança Alimentar Mundial da ONU.

Hilal Elver lembrou que os princípios do Direito Internacional Humanitário “supostamente protegem os civis, mas infelizmente é difícil punir as violações e responsabilizar os poderes e as milícias estaduais por seus crimes”.

Por isso, considerou “muito importante” que as agências humanitárias desenvolvam políticas “mais específicas” para as mulheres e monitorem suas situações nesses casos, apesar da dificuldade de acesso a certos lugares sob controle dos grupos armados.

“Muitas vezes não falamos sobre o direito à alimentação diante de crimes tão graves como tortura, estupro e assassinato, mas não são poucas as pessoas que estão morrendo de fome”, afirmou.

No Sudão do Sul, em fevereiro, em duas áreas isoladas, entre outros fatores, a taxa de mortalidade diária por conta da fome era de mais de duas pessoas para cada 10 mil, quatro vezes maior que o normal.

Em outras ocasiões, a violência é particularmente dirigida contra elas, como aconteceu com o sequestro, em 2014, de 276 meninas pelas mãos do Boko Haram, na Nigéria, ou as últimas denúncias de abusos sexuais por parte de “capacetes azuis” na República Centro-Africana.

A ativista palestina Mariam al Jaajaa, da Rede Árabe de Soberania Alimentar, disse na conversa que “os níveis de vulnerabilidade feminina são múltiplos”.

Sofrem as numerosas mulheres que, sem educação nem recursos, devem cuidar de suas famílias quando os homens são assassinados, feridos ou presos nas guerras.

Ou as vítimas da falta de nutrientes, incluindo a metade das afegãs com deficiências de ferro ou as três milhões de grávidas e crianças que passam fome no Iêmen.

“Você não pode ver as mulheres à parte nos conflitos. Elas não só se preocupam com seus direitos, mas também com as de suas comunidades”, destacou Mariam al Jaajaa.

Adwoa Sakyi, representante ganesa da União Internacional dos Trabalhadores da Alimentação (IUF, sigla em inglês), criticou o fato de que na África não se reconheça o trabalho no campo de muitas mulheres e que a elas são negadas o poder de negociação.

“Os conflitos pioram a falta de acesso aos recursos”, afirmou.

A paquistanesa Azra Sayeed, da Aliança Internacional de Mulheres, denunciou o ambiente “opressor” e o “silêncio” em várias partes da Ásia, perseguidas pelas forças da ordem quando tentam protestar contra a captura de terras e a perda de meios com as quais sobrevivem.

Depois de ouvir esses depoimentos, a relatora da ONU pediu o respeito pelos direitos humanos e enfatizou que os Estados têm a obrigação direta de proteger civis em conflitos.

Ela também pediu maior conscientização sobre a discriminação feminina e uma melhor compreensão de suas raízes, além de amparar as organizações civis e ativistas ameaçadas.

Outros pedidos foram para melhorar o acesso aos recursos, educação, informação e assistência legal; e aumentar sua capacidade de organizar e tomar decisões em uma tentativa – como disse Mariam al Jaajaa – de “adaptar as respostas às seus próprias necessidades”.

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