Papa revela que dedica sextas-feiras para se reunir com vítimas de abusos

  • Por Agência EFE
  • 15/02/2018 13h30
EFE/Angelo Carconi EFE/Angelo Carconi O pontífice fez estas declarações durante uma conversa que teve com jesuítas na recente viagem que fez ao Chile e ao Peru

O papa Francisco revelou que habitualmente separa às sextas-feiras para se encontrar com vítimas de abusos sexuais de membros da Igreja.

O pontífice fez estas declarações durante uma conversa que teve com jesuítas na recente viagem que fez ao Chile e ao Peru e que o jornal italiano “Corriere della Sera” publica alguns trechos nesta quinta-feira, cerca de um mês depois.

“É a maior desolação que a Igreja está passando. Isso nos deixa envergonhados, mas também devemos lembrar que a vergonha é uma graça muito ‘inácia’ (Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus). Então vamos tomá-la como uma graça e com profunda vergonha”, disse Francisco sobre os escândalos de abusos dentro da Igreja.

A íntegra da conversa será publicada na edição de sábado da revista da Companhia de Jesus, “La Civiltà Cattolica”, mas o diretor dela, Antonio Spadaro, decidiu adiantar alguma passagens hoje ao jornal.

Conforme o texto, o papa contou aos jesuítas que certa vez em Buenos Aires estava atravessando a rua e ouviu um casal chamar o filho pequeno e dizer: “tenha cuidado com os pedófilos”.

“Que vergonha eu senti! Não perceberam que era o arcebispo, mas eu era um sacerdote e senti vergonha”, explicou.

Francisco então afirmou que de vez em quando, como um “prêmio de consolação”, alguém lança mão de estatísticas e diz que “70% dos pedófilos estão dentro da família, ou são conhecidos” da vítima e que a porcentagem de padres católicos pedófilos não chega nem a 2%, é de 1,6%. Não é tanto”.

“Mas é terrível mesmo que seja um só! Porque Deus o ungiu para santificar crianças e adultos e ele os destruiu. É horrível!”, lamentou ele, para em seguida dizer que usava às sextas para conversas com pessoas que passaram por essa situação, mesmo que ne, sempre esses encontros sejam noticiados.

Para Francisco, casos assim são “uma grande humilhação para a Igreja” e acrescentou: “Isso mostra não apenas a nossa fragilidade, mas também, vamos falar claramente, o nosso nível de hipocrisia”.

Durante a conversa o papa argentino também falou sobre a sua “saúde mental” e disse que sabe que grupos opositores o acusam de heresia.

“Não posso negar que existem resistências. Eu os vejo e eu os conheço. (…) Para a minha saúde mental não leio os sites da chamada “resistência”. Sei que são, conheço os grupos, mas não os leio, simplesmente pela minha saúde mental. Se for algo muito sério vão me informar. É desagradável, mas devemos seguir em frente. Quando percebo resistências, tento dialogar, quando o diálogo é possível; (…). Mas nessas pessoas, pelo que dizem e escrevem, não encontro bondade espiritual. Eu simplesmente rezo por elas. Me desculpe”, justificou.

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