Crise causada pelo coronavírus pode deixar 500 milhões na pobreza

  • Por Jovem Pan
  • 10/04/2020 16h34 - Atualizado em 10/04/2020 16h36
Valter Campanato/ABr Efeitos da crise podem ser severos no Brasil em locais onde a população já sofre pela falta de serviços de primeira necessidade, como saneamento básico

A crise econômica causada pelo coronavírus pode deixar mais de 500 milhões de pessoas na pobreza e aumentar o número de desempregados em países como o Brasil. O alerta é da Oxfam, entidade que atua em mais de 90 país com campanhas, programas e ajuda humanitária.

A organização pede que os líderes mundiais impeçam que países e comunidades pobres afundem com a criação de um plano emergencial de resgate econômico. As autoridades econômicas se reúnem na próxima semana no G20, grupo dos países mais desenvolvidos do mundo, que terá também representantes do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Os US$ 2,5 tri que a ONU estimou serem necessários para apoiar os países em desenvolvimento podem não ser suficientes. Em nota, a Oxfam afirmou que período pós-COVID-19 vai requerer mais US$ 500 bilhões de ajuda externa, incluindo o financiamento de sistemas de saúde dos países mais pobres. “Impostos emergenciais de solidariedade, como taxas sobre lucros excessivos e pessoas muito ricas, poderiam mobilizar recursos adicionais”.

Na avaliação Oxfam, apesar de necessárias, as medidas de distanciamento social prejudicam a população mais pobre, já que restringem o funcionamento de estabelecimentos e causam demissões, suspensão de salários e inviabilizam o trabalho informal.

No Brasil, a situação é preocupante, já que grande parte da população sente falta do básico, como saneamento e água potável. Mais de 40 milhões de brasileiros trabalham sem carteira assinada, e 12 milhões estão sem emprego. A crise causada pela pandemia pode fazer esse número bater a casa dos 14 milhões.

“O coronavírus coloca o Brasil diante de uma dura e cruel realidade, ao combinar os piores indicadores sociais em um mesmo local e na mesma hora. E é neste momento que o Estado tem papel fundamental para reduzir esse impacto e cumprir sua responsabilidade constitucional tanto na redução da pobreza e das desigualdades quanto na garantia à vida da população”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.

A entidade aponta também que auxílio emergencial aprovado pelo governo de R$ 600 para informais e pequenos empreendedores pode não ser suficiente para contornar esse momento difícil. Segundo a Oxfam, será preciso ampliar o número de beneficiários da medida e estender o período de concessão.

Intitulado de “Dignidade, não Indigência”, o relatório mostra que cerca de 6 a 8% da população mundial entrará na pobreza após a crise. A porcentagem representa algo em torno de 500 milhões de pessoas, que sofrerão com a recessão em decorrência do esforço feito para conter os efeitos da pandemia. Os prejuízos podem fazer com que o mundo dê alguns passos para trás. “Isso pode representar um retrocesso de uma década na luta contra a pobreza. Em algumas regiões, como a África subsaariana, o norte da África e Oriente Médio, essa luta pode retroceder em até 30 anos. Mais da metade da população global poderão estar na pobreza depois da pandemia”, destacou a entidade.

As estimativas foram elaboradas pelo Instituto Mundial para a Pesquisa de Desenvolvimento Econômico, da Universidade das Nações Unidas, liderada por pesquisadores do King’s College de Londres e da Universidade Nacional da Austrália, e publicados nesta quinta-feira, 9.

Atualmente, apenas um em cada cinco desempregados em todo mundo tem acesso a benefícios similares ao seguro-desemprego. Dois bilhões de pessoas estão na informalidade, 90% concentrados nos países mais pobres.  As desigualdades evidenciam o impacto econômico causado pelo vírus, segundo a Oxfam. “Como os trabalhadores mais pobres, tanto nas nações ricas quanto nas pobres, atuam mais no mercado informal, eles estão descobertos de diversas formas. Eles, por exemplo, não têm proteções trabalhistas e nem conseguem trabalhar de casa”, diz a entidade.

O texto reforça ainda que os períodos mais difíceis da economia mundial deixaram suas lições, e é preciso compreendê-las. “Os governos precisam aprender as lições da crise financeira de 2008, quando a ajuda a bancos e corporações foi paga pelas pessoas comuns. Elas perderam seus empregos, tiveram seus salários achatados e serviços essenciais, como os de saúde, sofreram profundos cortes de financiamento”, destaca Katia Maia. “Os pacotes econômicos de estímulo têm que apoiar trabalhadores e pequenos negócios. A ajuda a grandes corporações tem que estar condicionadas a ações para a construção de economias mais justas e sustentáveis”,

Mulheres

O relatório afirma que serão as mulheres a população mais atingida pela crise, pois estão na linha de frente do combate à covid-19. “As mulheres representam 70% da força de trabalho em saúde pelo mundo e fazem 75% do trabalho de cuidado não remunerado, atendendo a crianças, doentes e idosos. As mulheres também são maioria nos empregos mais precários”, esclarece.

* Com Agência Brasil

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