Polícia agride de forma desproporcional e catalães se unem para garantir votação, relata jornalista brasileiro
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A Catalunha vive um domingo importante com a votação de um referendo de independência da Espanha. A polícia nacional espanhola tenta impedir à força os eleitores de acessar as urnas e a população catalã resiste.
O jornalista Marcelo Bechler, correspondente do Esporte Interativo em Barcelona, relatou em entrevista à Jovem Pan neste domingo (01) como está o clima na cidade catalã.
Ele conta que desde terça-feira da semana passada, os catalães ocupam escolas para tentar garantir a votação.
Bechler, que mora ao lado do maior colégio eleitoral da Espanha, conta que presenciou desde cedo “carros da polícia espanhol avançando sobre pessoas” e “bombas durante toda a manhã”.
Já “a resistência catalã é absolutamente pacífica. Querem votar e nada mais”, relata Bechler. Mesmo os contrários à separação da Catalunha (as pesquisas apontam placares apertados) são favoráveis ao direito de votar pela democracia. Levantamento mostrou que 82% dos catalães queriam votar – seja pelo “sim” (à independência), seja pelo “não”.
“Há uma repressão com muitas agressões de forma absolutamente desproporcional dos policiais espanhóis contra mulheres, idosos, jovens, indiscriminadamente. Primeiro batem, depois olham em quem estão batendo”, relata Bechler.
“As pessoas que estão votando não estão saindo dos colégios. Se chega algum policial com alguma ação autoritária, as próprias pessoas que já votaram protegem aquelas que ainda vão votar”, conta o jornalista, que aponta um “sentimento de dignidade e busca pela democracia”.
Imagens de mulheres sendo arrastadas pelo cabelo escada abaixo de colégios eleitorais foram propagadas nas redes sociais:
No ho oblidarem mai #VagaGeneral #NoSócEspanyol #QueSenVagin #SpaniardsGoHome #1O #CatalanReferendum pic.twitter.com/bxYIROkshV
— Oriolez (@oriolescutez) October 1, 2017
Após tentativas de negociar um referendo legal com o governo de Madri, a província da Catalunha se apegou a leis de autodeterminação dos povos, do direito internacional, para tentar garantir sua soberania.
O clima político é péssimo. A prefeita de Barcelona Ada Colau chamou nesta manhã o presidente espanhol Mariano Rajoy de “covarde” e que ele não está à altura do cargo que exerce.
As perspectivas políticas são incertas após este domingo, diz Bechler. Se aprovada a independência da Catalunha, não se ela será reconhecida em âmbito internacional, pela União Europeia e ONU.
Futebol e política
O jogo entre Barcelona e Las Palmas ocorreu com portões fechados neste domingo para decepção dos torcedores que se aglomeravam em frente ao estádio.
A torcida organizada do Barça planejava invadir o gramado do Camp Nou no primeiro minuto da partida e impedir a realização da partida. Depois, eles voltariam às seções eleitorais. Mesmo sem torcida no estádio, uma pessoa conseguiu invadir o campo e foi retirada:
Alguém conseguiu entrar no Camp Nou e invadiu o campo pic.twitter.com/YTCXDNfXRl
— Marcelo Bechler (@marcelobechler) October 1, 2017
O Barcelona, apesar de ter sua história ligada à luta catalã, se define como um clube catalão, mas não se diz independentista. O clube é favorável, no entanto, à realização do referendo, diz o jornalista.
Ouça a entrevista:
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