Reação contra concentração de poder na China será moderada, prevê embaixador

  • Por Jovem Pan
  • 11/03/2018 16h53 - Atualizado em 11/03/2018 16h54
EFE/ Roman Pilipey Broche com imagem do presidente da China Xi Jinping (dir.) ao lado do rosto do ex-líder Mao Tsé-Tung em mercado de Pequim

A China aprovou neste domingo (11) mudança em sua constituição que permite um mandato vitalício para o presidente Xi Jinping.

A Jovem Pan conversou com Marcos Azambuja, ex-embaixador na França e Argentina e conselheiro do Cebri, Centro Brasileiro de Relações Internacionais, que avaliou a mudança na política da potência asiática.

Azambuja elogiou os corajosos dois votos contrários e três abstenções na votação do congresso anual chinês neste domingo. Ouça a entrevista completa:

“Está acontecendo mais uma vitória do momento de autoritarismo que estamos vivendo na vida internacional”, classifica o embaixador, citando também as personalidades do presidente dos EUA, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin.

“A autoridade está sendo reforçada, enquanto a alternância de poder, a que atribuo tanta importância, está perdendo terreno”, cita o diplomata.

Ele vê outra mudança, porém, tão danosa quanto a possibilidade de Xi se perpetuar no poder. “O Xi também conseguiu que seu pensamento fosse incluído na Constituição como um modelo de pensar”.

“Isso é tão perigoso quanto a extensão do mandato porque sugere aquela ideia chinesa de transformar o pensamento de quem está no poder em uma forma de ortodoxia, de pensamento salvador”.

“Não houve desde Deng Xiaoping alguém ninguém que tenha o poder que tem o Xi”, avalia o diplomata. “A função de presidente da China é uma função mais cerimonial, mas ele (Xi Jinping.) exerce outras como de secretário-geral do partido, membro permanente do politburo; portanto há uma concentração de poderes na mão dele como não havia desde Mao Tsé Tung, que na fase final, com todos seus desmandos e violência atrasou tanto a China com decisões tão erradas”, comparou.

Reação do mundo

O diplomata não espera uma forte reação de outros países à nova guinada antidemocrática chinesa.

“A China está vivendo um momento de tanto poder econômico e todos nós precisamos de tal maneira do mercado chinês, dos investimentos chineses, que haverá uma cautela”, pondera Azambuja, prevendo “comentários mais timoratos, mais moderados do que seriam em outras épocas”.

Ele também avalia: “A China está querendo reocupar uma posição que ocupou durante muitos séculos de principal potência mundial, e está encontrando nos EUA, que atravessam um momento de instabilidade, a possibilidade de chegar lá”.

“Vocação autoritária”

Para Azambuja, o gigante asiático não aprendeu lições do passado e repete erros.

“É um momento que sugere que de novo as lições do passado, como sempre, não foram muito bem aprendidas”, disse.

“A China tem aquela vocação e tentação de transformar seus líderes em imperadores onipotentes”, afirmou.

“As lições de Deng Xiaoping não foram totalmente aprendidas, de modo que estamos de volta àquela China que tem a sedução de encontrar um líder que seja de certa maneira um ditador, uma expressão não só do poder político, mas do poder filosófico”, ressaltou.

“O problema que a China oferece é que seus líderes não querem apenas governar, eles querem organizar seu pensamento”, disse Azambuja, lembrando do “livrinho de pensamentos” de Mao Tsé Tung, que era entregue a todos os chineses como uma verdadeira cartilha durante a revolução cultural.

“Você tem na China essa vocação permanente de deificar, transformar o líder supremo em um ‘deus’, o que é um perigo para eles e para nós”, concluiu.

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