Religiosos estão no foco das tensões entre EUA e Turquia; entenda

  • Por Agência EFE
  • 15/08/2018 07h31
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EFE Tensões estão acirradas entre Donald Trump e Recep Erdogan

No centro dos atritos comerciais e diplomáticos crescentes entre Estados Unidos e Turquia estão dois religiosos: o pastor americano Andrew Brunson e o clérigo turco Fethullah Gülen.

Os EUA exigem que Brunson seja colocado em liberdade pela Turquia, onde está preso há dois anos sob acusações de terrorismo, e o país eurasiático reivindica a extradição de Gülen, que vive em Saylorsburg, um pequeno povoado nas montanhas do estado da Pensilvânia.

Brunson, de 50 anos, morava há mais de 20 na cidade de Izmir, no litoral do Mar Egeu, onde o pastor evangélico dirigia uma pequena congregação.

Seu trabalho não gerou grande interesse até que, dois anos atrás, foi acusado de estar ligado ao golpe de Estado frustrado contra o governo de Recep Tayyip Erdogan.

O caso de Brunson ganhou relevância após a insistência do American Center for Law and Justice (ACLJ), um grupo conservador cristão com grandes laços com a Casa Branca, e que conta com Jack Sekulow, um dos advogados do presidente americano, Donald Trump, como o seu principal assessor jurídico.

“O cristianismo está em julgamento. A evangelização não é terrorismo. É uma absoluta crueldade”, ressaltou a ACLJ em seu pedido de libertação para o pastor.

A ACLJ é uma importante representante da base conservadora cristã que levou Trump à Casa Branca, cujo maior expoente da mesma no governo é o vice-presidente, Mike Pence, e o próprio Trump se referiu ao pastor americano em várias ocasiões.

Em abril deste ano, o presidente publicou uma mensagem no Twitter pela primeira vez sobre o religioso: “o pastor Andrew Brunson, um bom cavalheiro e líder cristão nos EUA, está em julgamento e sendo perseguido na Turquia sem motivo”.

“O chamam de espião, mas sou mais espião do que ele. Com sorte, ele terá permissão para voltar para sua bela família com quem ele deve estar”, acrescentou Trump.

Brunson, que recentemente foi transferido para a prisão domiciliar, rejeitou as acusações e defendeu sua inocência.

Frustrado diante dos poucos progressos, Trump anunciou na semana passada que duplicaria as tarifas às importações de aço e alumínio da Turquia e fez questão de enfatizar: “Nossas relações com a Turquia não são boas neste momento!”.

As sanções comerciais, somadas à frágil situação econômica da Turquia, contribuíram para a queda da lira turca, em meio à perda de confiança dos investidores, complicando ainda mais as relações bilaterais.

Do outro lado do tabuleiro do jogo diplomático está outro religioso, o clérigo islamita Fethullah Gülen, exilado desde a década de 1990 na Pensilvânia.

Ao contrário de Brunson, no entanto, a figura de Gülen era bem conhecida tanto na Turquia como nos Estados Unidos.

O clérigo é fundador de uma poderosa associação com ampla presença no mundo dos negócios e nos meios de comunicação, conhecida como “Hizmet” (“Serviço”, em turco), e seus integrantes também são conhecidos como “fethullahci”.

Gülen, de 77 anos, não costuma aparecer em público, mas suas doutrinas são transmitidas por vídeo e mensagens difundidas entre os seus seguidores.

O carro-chefe do movimento “gülenista” são academias privadas de apoio ao ensino médio em toda a Turquia, assim como escolas privadas em vários países, com especial presença nos Estados Unidos.

Apesar de Gülen ter surgido como um firme aliado de Erdogan, os dois se distanciaram desde 2013 e, após o fracassado golpe de Estado de julho de 2016, no qual o clérigo nega qualquer envolvimento, o governo turco pediu aos EUA sua extradição.

As autoridades americanas assinalaram que os documentos recebidos não são suficientes para iniciar um processo formal de extradição, que deve passar pelos tribunais e incluir provas de um crime cometido.

Segundo vários veículos de imprensa americanos, Erdogan teria oferecido uma troca de Brunson por Gülen, algo com o qual o governo de Trump não teria concordado e considera que a mudança do pastor americano para a prisão domiciliar não é suficiente para diminuir os atritos.

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