Rússia e Ucrânia avançam em negociações por cessar-fogo, mas ataques continuam

De acordo com o ‘Financial Times’, minuta de acordo está pronta; governo ucraniano aponta desavenças e quer ‘garantias sólidas de segurança’

  • Por Jovem Pan
  • 16/03/2022 20h18
Maxim GUCHEK / BELTA / AFP Rússia, Ucrânia, Turquia Representante da Rússia e Ucrânia reunidos em Belarus para negociações de cessar-fogo

Após quase três semanas de conflito no Leste Europeu, Rússia e Ucrânia avançaram nas negociações e discutem termos para um cessar-fogo. É o que afirma reportagem publicada nesta quarta-feira, 16, pelo Financial Times. De acordo com o jornal britânico, os negociadores dos dois países, inclusive, já elaboraram uma minuta de acordo com 15 pontos, incluindo a retirada das tropas russas dos territórios ucranianos, a adoção de um posicionamento de neutralidade por Kiev e limites para a atuação de suas Forças Armadas. A informação vem à tona após três dias de intensas negociações entre os governos de Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky.

“O acordo proposto, que os negociadores ucranianos e russos discutiram na íntegra pela primeira vez na segunda-feira, envolveria Kiev renunciando às suas ambições de ingressar na Otan e prometendo não hospedar bases militares estrangeiras ou armamento em troca de proteção de aliados como EUA e Reino Unido e Turquia”, diz um trecho da reportagem do Financial Times. Apesar da sinalização, autoridades ucranianas dizem que é precipitado falar em um acordo, apontam uma série de divergências entre Kiev e Moscou e pedem, ainda, “garantias sólidas de segurança”. Um dos principais entraves nas tratativas é a definição sobre as regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, além da eventual aceitação da anexação da península da Crimeia, tomada pela Rússia ainda em 2014.

“Os territórios em disputa são um caso separado. Até agora, estamos a falar de uma retirada dos territórios ocupados desde o início da operação militar de 24 de fevereiro”, disse ao jornal o porta-voz de Zelensky, Mykhailo Podolyak. Em seu perfil no Twitter, porém, Podolyak disse que o rascunho do acordo representa apenas a posição do governo russo, acrescentando que a única coisa que poderia confirmar sobre a quarta rodada de negociações é a exigência de Kiev em relação à “retirada das tropas russas e garantias de segurança de vários países”.

O Kremlin também se posicionou e disse que “ainda é cedo para prever um acordo entre as partes”. Entretanto, confirmou que as negociações entre os dois países avançaram. Apesar da informação do jornal britânico, do avanço das negociações e do encontro entre os representantes dos dois países que já duram três dias, as cidades ucranianas continuam sendo atacadas. Nesta quarta, pelo terceiro dia seguido, a capital Kiev foi bombardeada pelas forças russas, e a cidade de Mariupol, que já está em estado de calamidade, teve um comboio com civis atacados – cinco pessoas ficaram feridas, sendo uma criança – e um teatro que servia de abrigo para civis, destruído.

Na terça-feira, 15, o presidente Volodymyr Zelensky, sinalizou que deve desistir do ingresso da Ucrânia na Otan. “Durante anos ouvimos falar de portas supostamente abertas, mas também ouvimos que não podemos entrar lá, isso é verdade, devemos admitir isso”, disse. A desistência pela adesão na aliança ocidental é uma das exigências do governo de Vladimir Putin para um acordo de cessar-fogo. O presidente ucraniano também declarou que “as reuniões continuam e, pelo que eu fui informado, as posições já soam mais realistas. Mas mais tempo será necessário para que as decisões estejam de acordo com os interesses da Ucrânia”, alegou.

Durante o dia, ambos os países se posicionaram sobre a possibilidade da Ucrânia se tornar uma país neutro.  O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse, inclusive, que “essa é uma variante que está sendo discutida e que poderia ser vista como um acordo”. Ele sugeriu que os ucranianos olhem para o modelo da Áustria e da Suécia. Podolyak rebateu as declarações e rechaçou a possibilidade do país adotar um status de neutralidade nesses moldes porque “a Ucrânia está em uma guerra direta com a Rússia. Portanto, o modelo só pode ser ucraniano e apenas com base em garantias sólidas em termos de segurança”, declarou.

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