Rússia encerra regime antiterrorista enquanto vende ideia de normalidade em meio ao enfraquecimento de Putin

Rebelião realizada pelo Grupo Wagner no final de semana representa o maior desafio do líder russo desde que chegou ao poder; analistas consideram que a crise poderia beneficiar os soldados de Kiev

  • Por Jovem Pan
  • 26/06/2023 11h16 - Atualizado em 26/06/2023 12h15
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Natalia KOLESNIKOVA / AFP rebelião na rússia Ativistas seguram um retrato do presidente russo Vladimir Putin perto da Praça Vermelha em Moscou, em 24 de junho de 2023

Dois dias após a rebelião que assustou os russos, deixou o Kremlin em atenção para o possível ataque do Grupo Wagner e enfraqueceu a imagem do presidente Vladimir Putin, a Rússia tenta vender nesta segunda-feira, 26, uma ideia de normalidade. Prova disso foi a suspensão das medidas – denominadas operações antiterroristas – de segurança instauradas em Moscou durante a rebelião paramilitar. Sergei Sobymin, prefeito da capital russa, agradeceu aos moradores, por meio do Telegram, pela “calma e compreensão”. Segundo uma reportagem feita pelo jornal britânico ‘The Guardian’, o comitê nacional antiterrorismo da Rússia disse que a situação no país é estável. Nesta segunda-feira, 26, o líder russo apareceu pela primeira vez desde a rebelião frustrada liderada pelo fundador do grupo paramilitar Wagner no fim de semana. No vídeo em que foi compartilhado, Putin discursa no fórum “Engenheiros do Futuro” e elogia as empresas por garantir “o funcionamento estável” da indústria do país “diante de vários desafios externos”. Outra autoridade que também deu as caras foi Sergeil Shoigu, o ministro da Defesa, que foi visto inspecionando as forças russas. Shoigu, que fez duras críticas a Yevgeny Prigozhin, chefe do Grupo Wagner, se reuniu, segundo a agência de notícias Ria, com o coronel-general Nikiforov, comandante do grupo ocidental. “O ministro também deu especial atenção à organização do apoio às tropas envolvidas na operação militar especial, e à criação de condições para o destacamento seguro de pessoal”, diz a nota.

Contudo, apesar da aparente volta à normalidade, muitas questões ainda seguem em aberto, como o que acontecerá daqui para frente, a ausência de respostas sobre o movimento rebelde e o paradeiro dos 25 mil homens que, segundo Prigozhin, o apoiaram em sua rebelião. Vale lembrar que a rebelião do grupo fundado por Yevgueni Prigozhin, um bilionário que já foi aliado de Putin, durou 24 horas e terminou no sábado à noite com um acordo entre ele e o Kremlin, após a mediação do presidente de Belarus, Alexander Lukashenko. Com o acordo, Prigozhin obteve garantias de imunidade para ele e seus combatentes em troca do fim da rebelião. O Kremlin anunciou que o empresário deve viver no exílio em Belarus. Porém, segundo informações divulgadas nesta segunda-feira, o líder do Grupo Wagner continua sendo investigado por sua tentativa frustrada de motim. “O caso não foi encerrado, a investigação continua”, declarou uma fonte da Procuradoria Geral russa, citada pelas três principais agências de notícias russas.

Paramilitares nas ruas da Rússia

Um morador local passa por membros do grupo Wagner em Rostov-on-Don, no sábado, 24 │Roman Romokhov/AFP

Apesar da aparente normalidade propagada pelas autoridades, a rápida aventura empreendida pelos insurgentes do grupo Wagner entre a noite de sexta-feira e a noite de sábado provocou grande comoção na Rússia. Durante 24 horas, as forças de Prigozhin assumiram o controle de várias unidades militares na cidade estratégica de Rostov do Don, no sudoeste, e avançaram 600 km na direção de Moscou, ao que parece sem grandes dificuldades. Em Rostov, os combatentes paramilitares, inclusive, foram aplaudidos quando deixaram o quartel-general militar que haviam ocupado, a partir do qual são coordenadas as operações na Ucrânia. Apesar de o golpe ter acabado de maneira tão repentina quanto começou, a crise representa o maior desafio que Vladimir Putin já enfrentou desde sua chegada ao poder em 1999. A rebelião não gerou só uma movimentação na Rússia, também mexeu no Ocidente. Para o secretário de Estado americano, Antony Blinken, a crise revela “verdadeiras rachaduras” na autoridade de Putin. “O fato de que existe alguém de dentro questionando a autoridade de Putin e questionando diretamente por que ele iniciou a agressão contra a Ucrânia, isto, em si, é algo muito forte”, disse Blinken ao canal CBS News no domingo.

Na mesma linha, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, declarou nesta segunda-feira que a rebelião dos paramilitares demonstra que a ofensiva na Ucrânia está “rachando o poder russo e afetando seu sistema político”. “Os acontecimentos do fim de semana são uma questão interna russa e uma nova demonstração do grande erro estratégico que o presidente Putin cometeu com a anexação ilegal da Crimeia e a guerra contra a Ucrânia”, afirmou o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg. Na Ucrânia, vários analistas consideram que a crise na Rússia poderia enfraquecer as tropas de Moscou na frente de batalha e beneficiar os soldados de Kiev, envolvidos em uma difícil contraofensiva há algumas semanas. Nesta segunda-feira, a vice-ministra ucraniana da Defesa, Ganna Maliar, anunciou que o exército retomou 17 quilômetros quadrados das forças de Moscou, o que eleva o total de território recuperado a 130 km² desde o início de junho.

guerra da Ucrânia

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