Rússia intensifica ataques na Ucrânia, e Zelensky luta para manter apoio dos países aliados
Fracasso da contraofensiva iniciada em junho pelo Exército ucraniano, acendeu alerta nos países ocidentais que demonstram aparente cansaço com conflito no Leste Europeu que está prestes a completar dois anos
Após ficar ofuscada e em segundo plano, devido ao conflito entre Israel e Hamas, que acontece desde o dia 7 de outubro, a guerra na Ucrânia, que se encaminha para seu segundo ano, voltou a ganhar notoriedade nos últimos dias com os ataques russos à Kiev, os Estados Unidos informando que a ajuda militar pode acabar no final deste ano e com o presidente norte-americano, Joe Biden, se encontrando com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, que viajou para Washington nesta semana após participar da cerimônia de posse do presidente da Argentina, Javier Milei. Na madrugada desta quarta-feira, 13, um bombardeio russo com mísseis deixou dezenas de feridos e provocou danos em um hospital infantil de Kiev, no ataque mais grave contra a capital da Ucrânia em vários meses. Essa agressão mais recente é apenas uma de uma série que a Rússia tem lançado contra o leste e sul da Ucrânia nos últimos dias.
A Força Aérea Ucraniana afirmou que os russos iniciaram o ataque “precisamente às 3h (22h de Brasília, terça-feira)” com o lançamento de 10 mísseis contra Kiev que foram derrubados. O Ministério da Saúde informou que 53 pessoas ficaram feridas, incluindo duas crianças. Os destroços dos mísseis caíram principalmente na zona leste da cidade. O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, informou que “um míssil caiu no perímetro de um hospital na capital” durante o ataque noturno. O presidente ucraniano elogiou o trabalho dos militares e se comprometeu a reforçar as defesas aéreas do país. “A Rússia confirmou novamente o título de país vergonhoso que lança-foguetes durante a noite, atacando áreas residenciais, jardins de infância e instalações de energia no inverno”, afirmou nas redes sociais.
Esses ataque russos acontecem em um momento em que Zelenksy está viajando para vários países aliados para continuar mantendo a ajuda militar que recebeu desde o começo da guerra, em 24 de fevereiro de 2022, e que possibilitou que seu país pudesse enfrentar a Rússia. Após participar da cerimônia de posse de Milei, na Argentina, o ucraniano foi para Washington, onde se encontrou com Biden, que alertou que Vladimir Putin, presidente russo, torce para que os EUA deixem que ajudar a Ucrânia. “Devemos, devemos mostrar [a Putin] que ele está errado”, insistiu o presidente americano durante uma conferência de imprensa conjunta em Washington com o seu contraparte ucraniano. Biden criticou duramente os congressistas republicanos que atualmente bloqueiam o pedido de um pacote adicional de US$ 61 bilhões (R$ 301 bilhões) para Kiev.
Durante a reunião com Zelensky no Salão Oval, Joe Biden afirmou que reduzir as armas e a ajuda financeira dos Estados Unidos seria dar à Rússia o “maior presente de Natal” possível. “A história julgará severamente aqueles que abandonaram a causa da liberdade”, afirmou o democrata de 81 anos, arquiteto do apoio ocidental à Ucrânia desde a invasão russa em fevereiro de 2022. Zelensky sabe que se os Estados Unidos o abandonarem, outros países podem seguir o exemplo, pelo que considerou “muito importante enviar antes do final do ano um sinal muito forte de unidade ao agressor”, por parte da Ucrânia, dos Estados Unidos, da Europa e do “mundo livre”. O Congresso americano comprometeu-se a desembolsar mais de US$ 110 bilhões (R$ 544 bilhões) desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022, mas não chega a acordo sobre o novo pacote pedido por Biden de cerca de US$ 61 bilhões, um valor que seria suficiente pelo menos até às eleições presidenciais dos Estados Unidos de 2024.
As tropas ucranianas “demonstram todos os dias que a Ucrânia pode vencer” contra a Rússia, afirmou Zelensky. Uma forma de responder às dúvidas surgidas após a decepcionante contraofensiva do seu exército, e levantadas, entre outros, pelo presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, o republicano Mike Johnson, cujo campo se mostra cada vez mais cético em relação a uma nova ajuda militar a Kiev. “O que a administração Biden parece querer são bilhões de dólares a mais sem uma supervisão adequada, sem uma estratégia real para a vitória”, afirmou após a sua reunião com o chefe de Estado ucraniano. Em teoria, o Congresso só tem até sexta-feira – quando começa o recesso parlamentar – para chegar a um acordo, caso contrário, a Ucrânia “ficara sem dinheiro”, advertiu a Casa Branca. Os democratas apoiam este novo pacote. Os republicanos não se opõem completamente, mas exigem em contrapartida importantes alterações na política migratória americana.
Nesta quarta, Zelensky desembarcou na Noruega para uma reunião com os governantes das cinco nações nórdicas, doadores cruciais da Ucrânia no conflito com a Rússia. “Não se pode vencer sem ajuda”, afirmou o presidente ucraniano à imprensa depois de um encontro com o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Støre. “Porém, não podemos perder, porque só o que temos é nosso país”, acrescentou. Após o fracasso da contraofensiva iniciada pela Ucrânia em junho, Zelensky tenta reconstruir o apoio dos aliados ucranianos em um momento de aparente cansaço. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, fez um apelo nesta quarta-feira aos 27 membros do bloco para que apoiem a ajuda econômica à Ucrânia e suas aspirações de aderir à União Europeia (UE).
*Com agências internacionais
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