Segregação racial afeta custo de imóveis nos Estados Unidos

  • Por Jovem Pan
  • 06/01/2019 10h58
Divulgação/Washington.org Washington, capital dos Estados Unidos, é uma das cidades que mais mostra a segregação racial no mercado imobiliário

O valor de uma casa em um bairro negro dos Estados Unidos chega a ser US$ 48 mil (cerca de R$ 178 mil) menor do que uma propriedade em um bairro branco. A conta, feita em um estudo do Brookings Institution e do Gallup, compara apenas propriedades com características semelhantes e em bairros com mesma infraestrutura. A diferença é, portanto, o que os pesquisadores consideram como o “custo racial”.

“Ao longo dos anos, a segregação afetou negativamente as condições dos bairros e a qualidade das casas. No entanto, as diferenças não explicam totalmente os preços”, argumentam Andre Perry, Jonathan Rothwell e David Harshbarger na pesquisa. Segundo Perry, a propriedade privada está no centro do “sonho americano”.

Partindo do pressuposto de que o imóvel é o maior patrimônio de uma pessoa, os pesquisadores apontam para o risco de a diferença no valor das casas perpetuar a desigualdade social entre negros e brancos. Somando o valor em cada casa, em média, a perda “acumulada” nas propriedades em bairros predominantemente negros chega a US$ 156 bilhões (em torno de R$ 580 bilhões), segundo os pesquisadores.

O custo de uma casa em bairro majoritariamente negro, nas áreas metropolitanas, é ao redor de US$ 184 mil (R$ 683 mil). Já a média nos bairros em que os negros são menos de 1% dos moradores, é de US$ 341 mil (R$ 1,2 milhão) – sem considerar as diferenças de infraestrutura das regiões. Nas áreas metropolitanas dos EUA, 10% dos bairros são predominantemente negros e nessas regiões vivem 41% da população negra.

Em Washington, o custo alto de propriedades em bairros predominantemente brancos tem alterado o perfil das áreas residenciais. A capital, que era conhecida como “cidade chocolate”, por ter maioria negra, mudou seu perfil demográfico, mas manteve a segregação racial entre bairros.

Segundo o centro de estudo D.C. Policy Center, 71% da população se definia como “negra” nos anos 70. Atualmente, a porcentagem fica abaixo da metade da população. Desde a década de 70, o “índice de segregação” entre os bairros oscilou entre 72 e 77 (numa escala até 100), chegando a 70 nas medições mais recentes. A resposta para isso é a mudança da população negra para os subúrbios.

A capital tem ruas que mudam de perfil de acordo com o lado da cidade em que se está, leste ou oeste. A gentrificação é puxada pelo lançamento de prédios de luxo, que mudam o perfil dos serviços e dos moradores.

A rua “H”, em Washington, é um dos corredores onde é possível ver a transição. No lado sudeste, a rua mudou de cara a partir de 2016 com a inauguração de um dos prédios, conhecido como Apollo. Piscina no terraço, mesa de sinuca e academia são algumas das amenidades. Quem se mudou para o Apollo diz que o prédio trouxe um perfil de comércio mais caro e expulsou moradores antigos para regiões menos valorizadas.

Não é raro, em Washington, que as pessoas se refiram a uma rua ou bairro como uma região que abrigou um antigo “gueto”. São regiões exploradas, nos últimos anos, por corporações imobiliárias, responsáveis pela mudança no perfil da região e dos moradores. É o caso da Rua 14, onde os prédios com piscina e churrasqueira na cobertura se acumulam um ao lado do outro.

Howard Barrett é negro e cresceu entre Maryland e Washington. “Muitas mudanças aconteceram. Elas trouxeram mais diversidade, mas deixaram muitos sem teto e mudaram o sentimento de comunidade. É um ciclo de mudança pelo qual a cidade passa”, afirma Barrett, que é capaz de dizer uma lista de ruas e bairros que mudaram de cara.

*Com Estadão Conteúdo

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