Ucrânia luta para manter últimas áreas do leste do país após bombardeio em escola

Militares ucranianos do batalhão de Azov que continuam entrincheirados na siderúrgica de Azovstal, em Mariupol, afirmaram que não pensam em se render

  • Por Jovem Pan
  • 08/05/2022 17h05
  • BlueSky
Yasuyoshi CHIBA / AFP Estação de trem em Seversk, leste da Ucrânia, em 8 de maio de 2022, depois que a instalação foi alvo de ataques com mísseis há quatro dias em meio à invasão russa da Ucrânia Estação de trem em Seversk, leste da Ucrânia, em 8 de maio de 2022, depois que a instalação foi alvo de ataques com mísseis há quatro dias em meio à invasão russa da Ucrânia

As forças ucranianas lutavam neste domingo, 8, para defender seus últimos redutos no leste do país, onde os russos intensificaram seus bombardeios, deixando 60 desaparecidos no ataque a uma escola. Na véspera da comemoração em Moscou da vitória contra a Alemanha nazista, os militares ucranianos do batalhão de Azov que continuam entrincheirados na siderúrgica de Azovstal, em Mariupol, afirmaram que não pensam em se render. Na região de Luhansk, leste do país, cerca de 60 pessoas foram declaradas desaparecidas depois que um bombardeio destruiu uma escola na localidade de Bilogorivka, onde esses civis estavam refugiados, informou o governador regional, Sergei Gaïdaï. “Havia um total de 90 pessoas. Vinte e sete se salvaram. Sessenta pessoas que estavam na escola provavelmente estão mortas”, apontou.

“O inimigo não cessa as operações ofensivas na zona operacional do leste para estabelecer o controle total sobre o território das regiões de Donetsk, Luhansk e Kherson, e para manter o corredor terrestre entre esses territórios e a Crimeia ocupada” desde 2014, informou o Estado-Maior ucraniano nesta manhã. A mesma fonte afirmou que na região de Donetsk, as tropas russas continuam suas operações em torno de Lyman, Popasnyansky, Severodonetsk e Avdiivka. E que a situação está “tensa” do lado da Moldávia. Do lado russo, o Ministério da Defesa reivindicou hoje a destruição do “posto de comando de uma brigada mecanizada” na região de Kharkiv (leste), bem como “do centro de comunicação do aeródromo militar de Chervonoglinskoy, perto da aldeia de Artsyz”. Além disso, a defesa aérea destruiu “mais dois bombardeiros Su-24 ucranianos e um helicóptero Mi-24 da Força Aérea ucraniana sobre a Ilha da Cobra, e um veículo aéreo não tripulado Bayraktar-TB2 foi abatido perto da cidade de Odessa”, segundo a mesma fonte.

‘O mal voltou’

Autoridades ucranianas alertam há dias para uma possível intensificação dos ataques russos à medida que a comemoração de 9 de maio se aproxima. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, quis marcar o aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial com uma mensagem comparando a situação atual. “Décadas após a Segunda Guerra Mundial, a escuridão voltou à Ucrânia“, disse o presidente em um vídeo em preto e branco publicado nas redes sociais. “O mal voltou, com um uniforme diferente, com lemas diferentes, mas com o mesmo objetivo”, advertiu, tentando transformar a retórica “antinazista” do presidente russo, Vladimir Putin, contra ele. Putin garantiu neste domingo que, assim “como em 1945, a vitória será nossa”, multiplicando as comparações entre a Segunda Guerra Mundial e o conflito na Ucrânia.

Putin, que pensa que não pode “se permitir perder” na Ucrânia, está “convencido de que redobrar seus esforços lhe permitirá progredir”, estimou no sábado Bill Burns, diretor da agência de inteligência americana CIA. Não há, no entanto, “evidências concretas” de que a Rússia, que colocou suas forças de dissuasão em alerta máximo logo após o início de sua intervenção militar, “se prepara para um desdobramento ou mesmo uso potencial de armas nucleares táticas” neste conflito, destacou.

‘Vergonha’

Neste domingo, o G7, ao qual pertencem Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, declarou que “a guerra não provocada” promovida pelo presidente Putin levou “vergonha à Rússia e aos sacrifícios históricos do seu povo”. A Casa Branca informou hoje em comunicado que o G7 “comprometeu-se a proibir ou eliminar gradualmente as importações de petróleo russo. Isso representará um duro golpe para a principal artéria da economia de Putin e lhe negará a receita necessária para financiar sua guerra.” O texto não especifica que compromissos foram assumidos pelos membros do G7, que realizou neste domingo sua terceira reunião do ano por videoconferência, com a participação do presidente da Ucrânia.

O Ocidente até agora mostrou uma coordenação muito próxima em seus anúncios de sanções contra Moscou. No entanto, não avança no mesmo ritmo quando se trata de petróleo e gás russos. Os Estados Unidos, que não eram grandes consumidores do petróleo russo, já proibiram sua importação. Os membros da União Europeia, pressionados a aplicar essa medida, são muito mais dependentes da Rússia. Os Estados Unidos também anunciaram novas sanções contra a Rússia, que afetam a mídia e o acesso de empresas e grandes fortunas russas a serviços de consultoria e contabilidade, tanto americanos quanto britânicos, que são os grandes especialistas mundiais.

Civis removidos

Após diversas tentativas, os civis foram retirados da siderúrgica de Azovstal, informou Zelensky na noite deste sábado. Segundo Kiev, essas operações, acompanhadas pela ONU e a Cruz Vermelha, permitiram a remoção de cerca de 500 pessoas em uma semana. Segundo Yevgenia Tytarenko, enfermeira militar, cujo marido, médico e membro do regimento Azov, e seus colegas ainda ocupam a fábrica, “muitos soldados estão em estado grave. Estão feridos e não têm remédios”.  “Vou lutar até o fim”, escreveu seu marido Mykhaïlo, em um SMS que a AFP visualizou. Eles se casaram dois dias antes da invasão russa. Mariupol, uma cidade portuária no sudeste que tinha quase 500 mil habitantes antes da guerra, foi quase completamente apagada do mapa por dois meses de bombardeios russos.

*Com AFP

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.