Universidade de Stanford oferece curso para compreender o amor
O amor comemorado nesta quinta-feira (14), no Dia de São Valentim, não é tema apenas para uma data. Pelo menos não para a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. A instituição criou um curso de três meses para estudar as raízes do amor contemporâneo.
“Estudar o amor é tão ou mais importante do que estudar física. De que adianta entender os cosmos se não conseguirmos desenvolver o conhecimento sobre nós mesmos e nossas prioridades?”, disse o Robert Pogue Harrison. Com essa ideia, o Departamento de Humanidades desenvolveu há cinco anos o curso “What is love?” (O que é o amor?).
“É uma pergunta que todos em algum momento da vida se fazem, talvez não exista resposta, mas é preciso fazê-la”, defendeu David Lummus, um dos criadores do curso, que é oferecido para alunos de primeiro ano de graduações tem ganhado popularidade.
O plano de estudo pretende que, no final, o participante tenha tentado responder perguntas como: o amor é fenômeno espiritual ou corporal? O conceito de amor é eterno ou está sempre mudando? O amor leva a pensar outras importantes questões filosóficas e sociais?
A análise feita por Harrison, coordenador da disciplina, é muito diferente da mercantilização em torno da celebração do Dia de São Valentim. A Federação Nacional do Varejo dos EUA estima que US$ 20,7 bilhões serão gastos em presentes este ano.
Metade da laranja
Embora o gasto continue crescendo ano a ano, paradoxalmente a quantidade de gente que comemora a data tem diminuído. Há 10 anos, mais de 60% dos americanos adultos diziam que comemorariam de alguma jeito a data. Em 2019, a porcentagem caiu para a metade disso, de acordo com a Federação. “O amor não é trivial”, ressaltou Harrison.
Prova disso é que, ao longo dos séculos, o amor romântico foi tema de discussões e inspirações para filósofos, escritores e pensadores da História da cultura ocidental. Para o professor, as pessoas que celebram o dia de hoje deveriam agradecer a Platão os conceitos de alma gêmea ou “metade da laranja”.
O discurso de Aristófanes em “O Banquete”, de Platão, sugere que originalmente os humanos eram criaturas complementares, mas os deuses os dividiram ao meio. “Desde então, os humanos se sentiriam incompletos, e teriam a necessidade de restaurar a unidade e por isso buscam a outra metade perdida”, esclareceu Harrison.
Enquanto a crença da outra metade dataria do século IV a.C., ações como dar flores e o cavalheirismo surgiram nos séculos XII e XIII no sul da atual França, onde se originou a poesia lírica ocidental. Para Harrison, nossas ideias de amor romântico evoluíram muito pouco quando se trata do essencial.
“Ainda pensamos que o amor é enobrecedor e íntimo, uma forma profundamente pessoal de transcendência espiritual”, disse. Inclusive muitas letras de músicas são herança da grande tradição do amor cortês e da poesia dos trovadores nos séculos XII e XIII.
“A maioria dos estudantes se surpreende ao saber que todos estes conceitos de amor e expressões de romance foram herdados e estudados por grandes nomes, como Dante [Alighieri] e [William] Shakespeare”, revelou Harrison.
“What is Love?” não é o único curso que Stanford oferece sobre o tema. A universidade ainda possui “Love as a Force for Social Justice” (O amor como força de justiça social)”, disponível online. Nas aulas, a professora Anne Firth Murray tenta conscientizar os participantes do poder do amor e da possibilidade de praticá-lo no dia a dia.
“O amor foi, é e continuará sendo matéria de estudo”, resumiu Harrison.
*Com informações da EFE
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