Vítimas de deslocamento forçado no mundo chegam a quase 71 milhões, diz ONU

  • Por Jovem Pan
  • 19/06/2019 08h26 - Atualizado em 19/06/2019 08h30
EFE/Stratis Tsoulelis De acordo com os dados mais recentes, 37 mil pessoas foram forçadas todos os dias a deixar seus lares

Entre refugiados, pessoas que pedem asilo e indivíduos que se deslocam dentro de países, o número de vítimas de migração forçada chegou a 70,8 milhões de pessoas em 2018, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).

O número dobrou em questão de 20 anos e em 2018 elas eram 2,3 milhões a mais do que no ano anterior, explicou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi.

De acordo com os dados mais recentes, 37 mil pessoas foram forçadas todos os dias por conflitos, violência ou violações de seus direitos humanos a deixar suas casas.

A crise que afeta a Venezuela nos últimos anos, inclusive, tem efeito no quadro geral de deslocamento forçado. Isso ocorre porque, dos mais de quatro milhões de venezuelanos que deixaram seu país desde 2015, menos de meio milhão solicitaram a condição de refugiados, perto da metade deles no Peru.

A situação no país dominou amplamente a entrevista coletiva oferecida por Grandi para a publicação do relatório anual da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que detalha as últimas tendências em deslocamento forçado no mundo, na véspera do Dia Mundial dos Refugiados, 20 de junho.

A esse respeito, ele especificou que, embora uma minoria de venezuelanos que deixou seu país tenha solicitado asilo, a maioria precisa de proteção internacional, já que seu êxodo é devido à insegurança, medo de ser alvo de represálias por suas opiniões políticas, escassez de alimentos, medicamentos e serviços públicos, ou a incapacidade de sustentar a si e suas famílias.

De todas as pessoas do mundo que sofreram deslocamento forçado, a maioria (41,3 milhões) permaneceu em seu próprio país.

Por sua parte, os refugiados (aqueles que atravessaram uma fronteira internacional) totalizaram 25,9 milhões em 2018 (500 mil a mais do que um ano antes), enquanto há 3,5 milhões de requerentes de asilo.

Um fato dramático que emerge do relatório é que metade dos refugiados são crianças, o que desmente o discurso anti-imigração que tenta confundir refugiados com migrantes para fins econômicos.

“As crianças não fogem para buscar melhores oportunidades, elas simplesmente fogem em busca de segurança”, disse Grandi.

A proporção de pessoas que são refugiadas, requerentes de asilo e pessoas deslocadas internamente é agora de 1 em 108 pessoas, enquanto há 10 anos era de 1 em 160 pessoas.

A tendência para aumentar os deslocamentos forçados é explicada pela incapacidade de resolver conflitos armados ou situações de violência, para as quais a condição mínima – enfatizou Grandi – é a cooperação política entre as principais potências.

Sobre o problema da migração para a Europa através do Mediterrâneo, uma rota onde os naufrágios dos navios migrantes são frequentes, Filippo Grandi considerou incompreensível que os países europeus sigam sem entrar em acordo para um sistema de distribuição de refugiados e imigrantes quando eles são resgatados.

“Eu não entendo o motivo de não haver acordos mais previsíveis e negociações desnecessárias seriam evitadas. Os ministros passam horas ao telefone para negociar que três imigrantes vão para um país e cinco para outro, que em geral são a Itália e Malta”, lamentou.

A razão, explicou ele, é que o debate sobre a migração é totalmente politizado pois a “distribuição” é considerada “compromisso” e os governos “têm medo de que isso seja usado politicamente”.

Neste ponto, o alto comissário homenageou a coragem demonstrada em 2015 pela chanceler da Alemanha, Angela Merkel, quando decidiu abrir as fronteiras de seu país aos refugiados que nesse momento fugiam na sua maioria da guerra na Síria.

Filippo Grandi afirmou que, embora esse tenha sido o pretexto da classe política alemã atacar Merkel, a história valorizará sua figura e lembrará essa decisão como a correta.

Com Agência EFE

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