Museu da USP não abre de fim de semana pois não consegue pagar seguranças

  • Por Thiago Uberreich/ Jovem Pan
  • 06/03/2015 10h32
Crianças observam item em exposição no Museu de Geociências Divulgação Além do MAC

O descaso com os museus no país beira o absurdo: tem lugar que não abre de fim de semana porque o segurança foi mandado embora. O caso pode ser verificado dentro da maior universidade do Brasil, que sofre com a falta de recursos.

Ao menos nove instituições ligadas à USP, que enfrenta uma grave crise e não conseguem manter os acervos.

A Jovem Pan segue fazendo uma radiografia do descaso com os museus do país. Confira na reportagem especial de Thiago Uberreich:

No Museu de Geociências da Cidade Universitária da USP, o visitante se depara com mais de 45 mil amostras de minerais, rochas e meteoritos. A crise na Universidade de São Paulo, porém, pegou em cheio o instituto, que só funciona de terça a sexta-feira em horários agendados: a maioria por escolas.

Em tom de desabafo, o geólogo chefe, Ideval Souza Costa, ressalta que só em casos específicos o local abre de fim de semana. “Eu não tenho como abrir de sábado ou domingo porque a reitoria não dispôs dinheiro para poder pagar esse segurança”, explicou.

Costa conta que desloca seguranças de outro setor para manter o museu funcionando, “senão nem para isso”. Há sábados e domingos em que o museu é aberto “excepcionalmente” e “esporadicamente” para atender algum grupo de escola que não consiga ir durante a semana.

Outros museus

O problema na geociências se repete em outras instituições da USP: de um total de 17, ao menos 9 estão com as portas fechadas.

Os museus de Anatomia Humana e de zoologia, na Cidade Universitária, não abrem ao público há mais de dois anos, sem previsão para o início das obras.

A Estação Ciência que fica rua Guaicurus, na Lapa, está nas mesmas condições.

A pró-reitora de Cultura da Universidade de São Paulo, Maria Arminda do Nascimento Arruda, reconhece as dificuldades financeiras, mas pondera que “isso envolve custos muito altas que nem sempre a universidade pode dar conta”.

“Ela (a universidade) tem uma graduação comquase 60 mil alunos, 30 mil de pós, 20 mil de extensão, é um negócio enorme”, avalia Arruda. “Nós estamos buscando financiamento público de instituições públicas e, ao mesmo tempo, com parcerias de instituições privadas por intermédio da Lei Rouanet”, sugere. “E também pedindo auxílio do governo do Estado e da Prefeitura, afirmou a pró-reitora.

Cultura e o capital

Justificativas à parte, a USP também é responsável por instituições maiores como MAC e o próprio Museu do Ipiranga, fechado desde 2013. Em janeiro, a reportagem da Jovem Pan constatou que a burocracia dificulta o início da reforma, prevista para terminar apenas em 2022.

O consultor de novos negócios da Federação de Amigos de Museus do Brasil, Gustavo Horta, lamenta. “Você retira o dinheiro do mercado, a cultura sempre vai pagar o preço mais rápido, porque é uma das primeiras coisas que você corta”, considerou, seja por “falta de repasse da Prefeitura, algum problema que o museu teve com verba de leis de incentivos, ou até descaso das pessoas que trabalham ali”.

Apesar da boa vontade e do apoio de entidades sem fins lucrativos, como a Feambra, o descaso é assustador.

A USP admite a necessidade de ampliar a divulgação dos museus e atrair o público: a maioria hoje é frequentada apenas por escolas.

Mas não adianta abrir o campus para a sociedade se os visitantes correm o risco de dar com a cara na porta.

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