“Na ponta do lápis”: presidente da Abimaq prevê dificuldades em manter empregados após ato do governo

  • Por Jovem Pan
  • 27/02/2015 15h53
03/05/2004 angra dos reis rj estaleiro bras fels . verolme foto antonio pinheiro GERJ Indústria

O Governo resolveu nesta sexta onerar o que tinha desonerado. A presidente Dilma Rousseff publicou uma Medida Provisória (MP 669) reduzindo o benefício fiscal da desoneração da folha de pagamento de diversos áreas industriais e comerciais. Com a MP, os setores que pagavam 2% passarão a pagar 4,5% sobre o faturamento. Já os que pagavam 1% passarão a pagar 2,5%. E a mudança vem mesmo com o aumento da taxa de desemprego, de 4,8% para 5,3%.

Em entrevista ao jornalista Anchieta Filho, da Jovem Pan, o presidente-executivo da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), José Velloso, avaliou que “essa talvez tenha sido a pior medida” que o governo poderia ter feito, uma vez que retira a “principal conquista dos últimos anos” para a indústria, que tinha sido a desoneração na folha de pagamentos.

Agora, com a crise no setor industrial (apenas o setor de máquinas e equipamentos, “a indústria de fazer indústria”, perdeu 21% do faturamento em 3 anos), que Velloso entende como “a maior dos últimos anos”, o presidente da associação espera dificuldades das companhias em segurar o emprego de seus funcionários. “Uma empresa que já está com problemas de queda de faturamento, baixa das vendas (…), com um aumento de 150%, vai repensar sua estratégia e vai começar a calcular na ponta do lápis se vale a pena ou não reter os empregados”, avaliou.

Além disso, Velloso entende que o “aumento do imposto vai ser repassado para o preço dos produtos” e prevê que “além de um efeito inflacionário, vai ter a questão de produtos mais caros e menos vendas”. Por isso, o presidente da Abimaq entende que a medida do governo, que visa aumentar a arrecadação estatal, pode ter um “efeito contrário, porque uma diminuição da atividade econômica diminui o recolhimento de impostos”.

“Acaba ficando uma medida inócua e prejudicando a saúde financeira das empresas”, concluiu.

A indústria de máquinas

Para Velloso, a queda de 21% em três anos no setor de máquinas é uma mostra de que o país deixou de investir e prevê futuros problemas para a indústria, “que não está se renovando”. A alíquota para a folha no setor subiu de 1% para 2,5%. “Um aumento de 150% numa indústria que vem atravessando uma crise ímpar é um aumento muito exagerado”, opinou.

O presidente da Abimaq conta que, antes das medidas anunciadas pelo governo, estava prevendo uma queda de 10% de faturamento do setor. “Com essas medidas, os números terão de ser revistos”, lamenta.

Benefício que se foi

Velloso recorda ainda a importância da desoneração da folha que foi retirada. “Antes o INSS era cobrado 20% da folha de pagamento e penalizava mais quem gerava mais empregos”, lembra. Com a crise e a queda de faturamento, para evitar a demissão de funcionários, o imposto foi tirado da folha de pagamento e foi para o faturamento .

Agora, o mercado vai ter que conviver com um aumento de 150% na alíquota do INSS, da Previdência.

Ouça a entrevista completa no áudio acima.

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