Nanotecnologia quebra resistencia a medicamentos em doença do sono
Madri, 25 jun (EFE).- O único tratamento contra a doença do sono é feito com quatro fármacos muito tóxicos e tão antigos que já possuem muita resistência. Agora uma equipe de cientistas criou um veículo nanométrico (nanotransportador) capaz de evitá-las.
Esta doença negligenciada, também conhecida como tripanossomíase africana, é causada pelo protozoário Trypanosoma brucei, e afeta milhões de milhões de pessoas na África Subsaariana.
Atualmente, o maior problema da doença, fatal se não for tratada, é que os fármacos existentes geram muitas resistências e dificultam o tratamento.
As resistências aparecem porque, para entrar no parasita, os medicamentos utilizam os transportadores de superfície, um mecanismo que o parasita consegue neutralizar e que, ao deixar de funcionar, bloqueiam a entrada do remédio.
O nanotransportador idealizado pelos cientistas conduz os fármacos pelo organismo do paciente e os libera diretamente sobre o parasita, assinalou a pesquisa publicada nesta quinta-feira na revista “PLoS Patogens”.
“Os nanotransportadores são compostos de nanopartículas poliméricas que transportam os fármacos que já são usados contra a tripanossomíase africana. Estas nanocápsulas reconhecem a superfície do parasita e introduzem o medicamento nele”, explicou à Agência Efe José Antônio García Salcedo, pesquisador do Instituto de Pesquisa Biosanitária de Granada e coautor do estudo.
O método permite que os fármacos entrem diretamente no interior do parasita sem utilizar os chamados transportadores de superfície, que são os que mutam e geram as resistências.
“Pensamos que, se o fármaco entrasse por uma via alternativa, poderíamos evitar os mecanismos de resistência associados a mutações de seu transportador”, afirmou o pesquisador.
“Para provar nossa hipótese desenvolvemos um nanotransportador de fármacos que consiste em nanopartículas poliméricas revestidas com um anticorpo de domínio único (nanoanticorpo) que reconhece de forma específica a superfície do parasita”.
Uma vez carregado no nanotransportador, a droga é introduzida no interior do parasita, “concentrando assim a carga do remédio”.
Desta maneira, os remédios, que têm uma grande toxicidade, “são inoculados diretamente no protozoário, mas em quantidades muito menores e igualmente eficazes” para o paciente.
O estudo, realizado em animais de laboratório, apresenta uma nova prova de conceito de uma nova tecnologia (já utilizada em doenças como o câncer) que tem a capacidade de investir a resistência a remédios, causada pela perda de funcionalidade de seus transportadores.
Além disso, é útil porque a pesquisa de novos fármacos antiparasitários para uso terapêutico é um processo lento e caro para países do terceiro mundo, enquanto o transporte específico de remédios através dos novos avanços em nanoencapsulação “poderia representar uma alternativa mais rápida e rentável para o tratamento das doenças negligenciadas”.
“E embora ainda seja preciso melhorar este transportador e realizar os ensaios clínicos, por enquanto acreditamos que para a fase antecipada desta doença é eficiente”, concluiu.
Segundo ele, este novo sistema de administração de fármacos aumenta em até 100 vezes sua eficácia. EFE
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