“Não vou deixar que um maluco impeça meu trabalho” diz juíza feita refém
A juíza Tatiane Moreira Lima, feita refém na tarde de quarta-feira, 30, no Fórum do Butantã, zona oeste de São Paulo, divulgou mensagem de agradecimento a um grupo de magistrados no WhatsApp. No áudio, diz que está bem e não vai deixar que “um maluco” impeça seu trabalho. O motorista Alfredo José dos Santos, de 36 anos, foi detido após ameaçar incendiá-la.
Atualmente, mais de 200 juízes recebem proteção policial no País, conforme levantamento deste ano da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 83% dos casos de ameaça a juízes envolvem profissionais de primeira instância, como Tatiane.
O Fórum do Butantã ficou fechado e o expediente só deve ser retomado nesta sexta-feira, 1. Para o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, o crime contra a juíza “expõe de maneira explícita e cruel a intolerância e brutalidade e é motivo de preocupação para o País”. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) informou, sem detalhar, que serão tomadas medidas para garantir a segurança dos funcionários do fórum. Ainda ontem, 40 juízes se reuniram com o presidente do TJ, Paulo Dimas Mascaretti, para prestar solidariedade à juíza e discutir segurança.
No áudio divulgado na quinta-feira, 31, Tatiane conta que os danos físicos e psicológicos foram mínimos. “Que essa situação difícil que eu vivi possa se tornar algo bom e beneficiar toda a nossa carreira porque expõe realmente um risco a que todos estamos sujeitos”, disse. A magistrada ainda destacou sua atuação em relação à violência doméstica e disse que “uma pessoa só não pode apagar um trabalho que beneficia uma série de pessoas”.
O ataque
O motorista Alfredo José dos Santos, de 36 anos, responde a processo criminal por agressão contra a ex-mulher na Vara de Violência Doméstica presidida pela magistrada, no Fórum do Butantã, na zona oeste. O caso em análise aconteceu em 21 de agosto de 2013.
A auxiliar de serviços gerais Andréa Conceição, de 42 anos, voltava para casa a pé quando foi atacada por Santos, na Rua Frederico Lecor. Ela foi agredida com socos, chutes e só conseguiu escapar porque gritou por socorro. Uma amiga dela ouviu os gritos e a socorreu. Santos fugiu. O caso foi registrado no 33.º DP (Pirituba) como violência doméstica e lesão corporal.
Um mês depois, o motorista registrou dois boletins de ocorrência na mesma delegacia, acusando Andréa de maus-tratos contra o filho de 4 anos. As acusações não foram confirmadas pela polícia
Santos não se conformava com a postura rigorosa da magistrada nas audiências. Segundo a polícia, ele prestaria depoimento às 14h15 de quarta-feira. Chegou antes, no entanto, e entrou correndo pela saída.
Ele carregava material explosivo e incendiou um dos corredores. Em seguida, correu para a sala de audiência onde estava a juíza e a dominou dando numa “gravata”. Tatiane foi agredida e jogada no chão.
O agressor jogou gasolina e um produto inflamável na magistrada e ameaçou queimá-la com um isqueiro. Policiais militares e civis passaram a negociar a libertação. A ação foi gravada a pedido do criminoso.
Em uma das cenas, o homem obriga a juíza a dizer que ele é inocente das acusações de agressão. Santos acaba detido pelos policiais ao se distrair. Ele foi preso por tentativa de homicídio e resistência.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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