“Narcopolítica” é revelada no Paraguai após assassinato de jornalista

  • Por Agencia EFE
  • 15/12/2014 19h29
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Assunção, 15 dez (EFE).- O assassinato de um jornalista que questionava os supostos laços entre políticos e o tráfico de drogas reacendeu o sinal de alerta no Paraguai, maior produtor de maconha da América do Sul, sobre a possível existência de um sistema de “narcopolítica”, que está sendo investigado pelo Congresso.

Essa hipótese ganhou força após o assassinato, em 16 de outubro, de Pablo Medina, correspondente do jornal “ABC Color” no departamento de Canindeyú, na fronteira com o Brasil, e de sua acompanhante Antonia Almada.

Além de Medina, outros dois jornalistas paraguaios foram assassinados neste ano, Fausto Alcaraz e Elías Fernández Fleitas, ambos mortos após denunciarem sobre a conivência entre o narcotráfico e funcionários públicos, segundo a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP)

No entanto, o assassinato de Medina teve maiores consequências políticas do que os de seus companheiros de profissão.

Pouco após sua morte, a Promotoria acusava como autor intelectual do crime Vilmar Acosta, que fugiu quando ainda era prefeito pelo governista Partido Colorado em uma cidade do departamento de Canindeyú próxima ao Brasil, o principal destino da maconha paraguaia.

Acosta, que segundo o jornal “ABC Color” tinha ameaçado Medina, é acusado de narcotráfico, depois que a polícia encontrou um centro armazenamento de maconha em uma propriedade de sua família.

Após o assassinato, o jornal recolheu as informações obtidas por Medina e denunciou que Cristina Villalba, deputada do Partido Colorado, era a “madrinha” política de Acosta.

Por causa do acompanhamento desses fatos por parte da imprensa, à frente das autoridades na investigação, o Congresso abriu uma comissão para obter documentação sobre o crime.

A novidade é que a comissão se encarregará também de investigar a possível relação do mesmo com uma suposta infiltração de organizações dedicadas ao narcotráfico nas instituições do Estado.

Por causa disso, o Senado revelou um relatório da estatal Secretaria Antidrogas (Senad) baseado em escutas telefônicas, nas quais menciona vários deputados do governante Partido Colorado, que depois negaram toda vinculação com “capos” do narcotráfico.

As denúncias da imprensa também envolveram o ministro da Corte Suprema de Justiça paraguaia Víctor Núñez, também no ponto de mira do “ABC Color”.

A publicação assegurou, após a morte de Medina, que Núñez pressionou para obter a liberdade de Acosta e de seu pai, Vidal Acosta, em 2011, quando ambos estavam na prisão após terem sido encontrados restos humanos em uma vala comum cavada no pátio de uma casa que pertencia a eles.

Por fim, Núñez apresentou sua renúncia no início de dezembro.

Estes fatos coincidem com a aprovação no Paraguai de uma lei de transparência política considerada um marco internacional pelas organizações que trabalham pela liberdade de expressão e contra a corrupção.

Esta legislação, que entrará em vigência no 2015, obriga as instituições e os funcionários a divulgar a informação solicitada por qualquer cidadão sobre salários, viagens oficiais, contratos e outros dados que não estejam definidos como secretos.

Por outro lado, o país sul-americano, que celebra neste ano sua entrada no Conselho de Direitos Humanos da ONU, continua sendo questionado por não cumprir as sentenças que a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CorteIDH) emite contra si.

Três dessas penas são por permitir a violação dos direitos dos indígenas no Paraguai.

Além disso, a ONU pediu neste ano, em várias ocasiões, que o Paraguai se comprometa na investigação dos mais de 400 mortos e desaparecidos durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989).

O ano termina no Paraguai sem que o presidente Horacio Cartes, um empresário multimilionário que assumiu o poder em agosto de 2013, tenha abordado a desigual repartição da terra, um fator vital em um país cujos motores principais da economia são a agricultura e a pecuária.

Cartes também não resolveu o problema da violência das guerrilhas. O exército do Povo Paraguaio (EPP), ao qual o governo atribui 38 mortes de civis e militares desde sua fundação, em 2008, mantém como refém Arlan Fick, de 17 anos, desde o dia 2 de abril, e o policial Edelio Morínigo, de 24, desde 5 de julho. EFE

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