Narendra Modi, o hinduísta emergente

  • Por Agencia EFE
  • 04/04/2014 20h44

Alberto Masegosa

Nova Délhi, 4 abr (EFE).- Narendra Modi, que parte como favorito nas eleições que começam na próxima segunda-feira na Índia, é um líder hinduísta cuja popularidade emergiu com a mesma força e ritmo com os quais afundava a dinastia Gandhi, sua grande rival nas urnas.

Os dois processos correram em paralelo; enquanto o governo da família mais famosa do país era acusado de corrupto e inoperante, Modi ganhava fama de honesto e ótimo gestor público após crescer por conta própria no cenário nacional.

NaMo, acrónimo com que lhe apelidam seus partidários, nasceu em 1950 em uma família numerosa de casta baixa da cidade de Vadnagar, no estado de Gujarat e em cuja estação de trem, quando criança, ajudou seu pai como humilde vendedor de chá.

Aos 18 anos, Modi casou-se com uma jovem de um povoado próximo em cumprimento do costume, arraigado no gigante asiático, de que os pais escolham com quem seus filhos devem se casar sem consultá-los. Modi deixou sua esposa, Jashodaben Chimanlal, três anos após um casamento sobre o qual evita falar e que não consta em sua biografia oficial.

Jashodaben, hoje professora, ainda reivindica ser sua esposa legítima e, em um vídeo que pode ser visto na internet, lamenta ter perdido contato com seu marido, mas adverte que nunca romperá o vínculo legal que os une.

O abandono de seu cônjuge coincidiu com fim dos estudos de Modi e sua entrada, em 1971, no Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), grupo de extrema direita hindu que simpatizou com a Alemanha nazista e do qual fez parte Nathuram Godse, assassino de Mahatma Gandhi.

Após mais de uma década de afiliação a esse grupo, Modi se tornou militante, em 1985, do Bharatiya Janata Party (BJP), partido hinduísta com um perfil mais moderado, mas que se inspira nos ideais e na doutrina do RSS.

A carreira política de Modi teve, a partir de então, uma ascensão meteórica. Após ganhar a confiança dos dirigentes e subir no organograma do partido, em 2001 ele foi candidato ao governo de Gujarat, onde ainda conserva o cargo de primeiro-ministro regional após triunfar em quatro pleitos consecutivos.

Modi fez de Gujarat um dos estados mais prósperos da Índia – com um índice de desenvolvimento maior e com menor corrupção do que no resto do país -, o que junto com sua determinação e carisma o catapultou como candidato a liderar o governo nacional.

Com fala firme e sempre usando roupas tradicionais – inspirou a chamada “Modimania” -, congregou durante a campanha eleitoral multidões ao longo de todo o território indiano.

A ideia principal que ele tentou transmitir nos comícios é a de que o progresso de Gujarat é viável para o resto do país. A gestão de Modi nesse estado começou, no entanto, com um capítulo sangrento que manchou sua gestão.

Em fevereiro de 2002, pouco após assumir seu primeiro mandato, 59 peregrinos hindus morreram quando o trem em que viajavam pegou fogo. A causas do acidente nunca foram esclarecidas, mas radicais hindus acusaram ativistas islâmicos de incendiá-lo, e em represália cometeram um massacre indiscriminado que matou mais de mil muçulmanos no estado.

A sombra deste massacre, ligada a seu passado no RSS, ainda paira sobre Modi e o priva do grande apoio da comunidade muçulmana e outras minorias religiosas, temerosas da supremacia hindu em um país onde 80% da população professa essa fé.

Essa circunstância explica que, apesar de se definir como “nacionalista hindu”, Modi tenha insistido durante a campanha nos aspectos econômicos de seu programa e tenha evitado, na medida do possível, o tom religioso que impregna o hinduísmo político.

O massacre de 2002 também lhe valeu críticas de alguns setores da comunidade internacional, em particular no Reino Unido e nos Estados Unidos, país que três anos depois, em 2005, lhe negou visto.

Washington, no entanto, mudou de postura inesperadamente. Em fevereiro, três meses antes da eleição que agora pode tornar Modi o novo primeiro-ministro da Índia, a embaixadora dos EUA em Nova Délhi, Nancy Powell, o visitou em Gujarat.

A reunião, que a imprensa local interpretou como “o fim do boicote dos EUA a Modi”, teve o objetivo, segundo a missão diplomática americana, de “estender os contatos com líderes políticos e econômicos, para estreitar as relações com a Índia”. EFE

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