Narendra Modi, o menino que vendia chá, vai governar a Índia

  • Por Agencia EFE
  • 16/05/2014 10h35

Nova Délhi, 16 mai (EFE).- Narendra Modi, o hinduísta que governará a Índia, é um homem que quando criança ajudava o pai vendendo chá em uma estação de trem e quando adulto ganhou o eleitorado com uma mensagem de revigoramento econômico e um hábil uso das novas tecnologias.

A popularidade do líder do Bharatiya Janata Party (BJP) – aprovado por sua boa gestão no estado ocidental de Gurajat, que governa há 12 anos – subiu em paralelo à queda do Partido do Congresso após uma década no poder e atingido pela corrupção e pela desaceleração econômica.

O líder nacionalista hindu, por outro lado, forjou uma imagem de honesto e bom gerente, transformando Gurajat em um dos estados mais prósperos do gigante asiático e nos quais melhor funciona a Administração, uma conquista que durante a campanha eleitoral vendeu como exportável para o resto da Índia.

Uma trajetória de homem de sucesso que lhe valeu uma vitória histórica em detrimento do Partido do Congresso, da dinastia Nerhu-Gandi que governou a Índia praticamente desde a independência do país em 1947.

Aos 63 anos, NaMo, acrônimo com que lhe apelidam seus partidários, divulgou esta imagem de bom gerente nas redes sociais, em um país com cem milhões de usuários do Facebook, um número que só é superado pelos Estados Unidos.

Modi chegou a dar comícios em três dimensões (3D), para estar presente em até 140 lugares ao mesmo tempo na maior democracia do mundo, se comparando com líderes espirituais e deuses do hinduísmo, que a tradição lhes atribui estar em vários lugares ao tempo.

Nascido em 1950 no seio de uma família numerosa de casta baixa da cidade de Vadnagar, em Gujarat, cresceu ajudando a seu pai, vendedor de chá, na estação de trem.

Quando adolescente protagonizou um episódio obscuro ao se casar aos 18 anos com uma jovem de um povoado próximo, conforme o costume que os pais acertem as bodas de seus filhos sem consultá-los.

Modi deixou sua esposa, Jashodaben Chimanlal, aos três anos de um casamento que não constava em sua biografia oficial, embora durante as eleições tenha reconhecido o casamento, pois a lei obriga desde setembro de 2013 a nomear o cônjuge para evitar casos de corrupção por transações de dinheiro ilícitas.

O abandono da mulher coincidiu com o fim dos estudos de Modi e sua entrada em 1971 no Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), grupo de extrema direita hindu que simpatizou com a Alemanha nazista e do qual fez parte Nathuram Godse, o assassino do Mahatma Gandhi.

Após mais de uma década de afiliação a esse grupo, Modi se tornou militante em 1985 do BJP, partido hinduísta com um perfil mais moderado, mas que se inspira no ideário e na doutrina do RSS.

A carreira política de Modi foi desde então meteórica: após ganhar a confiança dos dirigentes e escalar sem pausa o organograma do partido, foi em 2001 candidato ao governo local de Gujarat, onde ainda conserva o cargo de primeiro-ministro regional, após triunfar em quatro pleitos consecutivos.

No entanto, a gestão de Modi nesse estado começou com um capítulo sangrento, que gerou o temor entre minorias como a muçulmana, em um país 80% hinduísta.

Em fevereiro de 2002, 59 peregrinos hindus morreram quando o trem em que viajavam pegou fogo e radicais hindus acusaram ativistas islâmicos de atear fogo ao comboio, perpetrando como represália um massacre indiscriminado de mais de mil muçulmanos.

Modi não foi levado à justiça, mas algumas testemunhas afirmam que instruiu a Polícia para que deixasse fazer aos assassinos.

O massacre também lhe valeu críticas na comunidade internacional, em particular no Reino Unido e nos EUA, país que em 2005 lhe negou o visto, mas que deu uma reviravolta inesperada em sua relação. Em fevereiro passado, a então embaixadora dos EUA em Nova Délhi, Nancy Powell, o visitou em Gujarat. EFE

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