Nkurunziza, um presidente entre a ambição e o misticismo

  • Por Agencia EFE
  • 18/07/2015 14h23

Edouard Madirisha.

Bujumbura, 18 jul (EFE).- O presidente do Burundi, Pierre Nkurunziza, se candidatará à reeleição na próxima terça-feira apesar da violência política e das críticas da comunidade internacional, obsessão que alguns atribuem à ambição e até mesmo à crença mística de ser o escolhido para liderar o povo burundinês.

Nkurunziza, filho de mãe tutsi e pai hutu, nasceu em 1964 e cresceu na província de Ngozi. Perdeu o cedo o pai, deputado assassinado durante a onda de violência que dizimou a elite hutu do país em 1972.

Apaixonado por esportes desde criança, especialmente pelo futebol, o jovem Nkurunziza estudou educação física para se tornar professor, carreira que seria interrompida pela guerra civil que começou pouco depois entre grupos rebeldes hutu e o exército dominado pelos tutsi.

Em 1995, se uniu às Forças de Defesa da Democracia (FDD), o braço armado do grupo insurgente no exílio, o Conselho Nacional para a Defesa da Democracia (CNDD).

Nkurunziza, que hoje concilia as tarefas de pastor protestante com as obrigações presidenciais, abraçou a religião após quase morrer em um ataque em 1995, que o levou a se envolver ativamente na guerrilha e subir nas FDD, antes de se tornar um partido político.

Liderado por Nkurunziza, o CNDD-FDD venceu em julho de 2005 as eleições na Assembleia Nacional e no Senado, que o elegeram como presidente do Burundi.

Nas presidenciais de 2010, Nkurunziza foi eleito com 91% dos votos ao se apresentar como único candidato, já que a oposição foi vetada após denunciar irregularidades na apuração.

Na mesma semana, apesar de ter milhares de cidadãos e toda a comunidade internacional contra si, Nkurunziza vai se candidatar à reeleição para um terceiro mandato.

A oposição afirma que a candidatura é ilegal porque a Constituição limita a dois os mandatos presidenciais, mas a Justiça burundinesa aprovou a decisão de Nkurunziza por ter sido eleito pelo parlamento na primeira vez, e não de forma direta.

O eleitorado burundinês irá às urnas na próxima quarta-feira dividido entre os que consideram Nkurunziza um líder fervorosamente religioso e próximo ao povo e os que temem seu caráter impiedoso.

Para alguns, Nukurunziza é um político sempre em campanha, que nunca descuida do contato direto com seu eleitorado. O presidente é muito popular no campo, onde vivem 80% dos burundineses e está seu principal foco de votos, graças aos trabalhos comunitários e a medidas como a saúde gratuita para menores de cinco anos.

Na proximidade do líder – pai de cinco filhos e casado com uma pastora protestante – tem grande importância seu fervor religioso, que o levou a dizer que ouviu de Deus que comandaria os destinos de seu país, segundo fontes ligadas ao líder.

Essa crença é combinada a uma grande admiração de uma parte da população por sua pessoa, o que cultiva com condecorações obtidas no exterior – relacionadas ao trabalho de pacificação das comunidades hutu e tutsi e habilidades militares -, o que rumores apontam que Nkurunziza “compra” para ganhar prestígio internacional.

Outra parte do eleitorado opina, simplesmente, que Nkurunziza é um líder impiedoso que elimina sistematicamente os que se opuserem a ele, como sugere a recente fuga do país do vice-presidente Gervais Rufyikiri por divergências com o líder.

As ambições de Nkurunziza provocaram uma onda de violência que deixou dezenas de mortos e obrigou 160 mil pessoas a deixar o país, mas o presidente se mantém firme.

Mais comprometido ao papel de pregador do que ao de governante, a onipotência de Nkurunziza é reforçada por seu círculo mais próximo, que o incentiva a enfrentar a comunidade internacional pelo mero interesse de manter seu status, sem pensar nas consequências que o país viverá. EFE

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