Noite de 24 de dezembro no Japão é para casais românticos

  • Por Agencia EFE
  • 24/12/2014 10h49

Andrés Sánchez Braun.

Tóquio, 24 dez (EFE).- No Japão a noite do dia 24 de dezembro é uma data que deve ser aproveitada pelos casais em um ambiente romântico, quase como um Dia dos Namorados, o que impõe uma pressão social cada vez maior aos solteiros e começa a gerar certo espírito anti-natalino entre os jovens do país.

Ao longo das últimas décadas a noite de 24 de dezembro acabou se tornando no país asiático, onde menos de 1% da população é cristã, uma data sem aparência religiosa marcante, mas de um consumismo quase obrigatório.

A personalidade japonesa e a vertente mais anglo-saxã do Natal, que começou a ser conhecida no Japão, sobretudo pela presença desde meados do século XX de tropas e de diplomatas americanos, deram lugar a uma série de rituais um tanto extravagantes e exclusivos do Japão.

Entre eles, comer frango frito (na falta do peru) e a “torta do Natal” (um bolo recoberto de creme e morangos, que lembra à roupa do Papai Noel).

No caso dos jovens, também celebrar uma noite romântica na noite do 24, o que costuma envolver uma sessão fotográfica em frente às (a cada ano mais ostentosas) iluminações natalinas que costumam ser montadas em áreas comerciais antes de um jantar íntimo e elegante.

O fenômeno alcançou tal importância que neste ano a operadora de telefonia celular KDDI organizou um evento que permitirá “jantar juntos” aqueles que tiverem relações à distância e vivam em Tóquio e Osaka, os dois principais núcleos econômicos do país.

O jantar será simultaneamente organizado em hotéis das duas cidades, onde cada participante terá uma tela gigante que transmitirá a imagem de seu parceiro em tempo real para que pareça um verdadeiro jantar com duas pessoas.

Para dar autenticidade à experiência inclusive foram contratados garçons gêmeos, para dar assim a sensação de que é uma só pessoa que atende às mesas.

A obsessão por passar juntos estas datas gerou até um neologismo para aqueles que passam a noite de 24 de dezembro sozinhos; “kuribotchi”, que combina a palavra kurismasu (Natal em japonês) e a expressão “hitori-botchi” (estar só).

São este tipo de coisas que começam a representar uma saturação para aqueles que estão solteiros ou que simplesmente não querem passar a noite de 24 de dezembro com outra pessoa, além de alimentar gestos cada vez mais anti-natalinos no país.

Gestos como os do grupo autodenominado “Kakuhidou” (contração em japonês de “Aliança Revolucionária de Homens não Atraentes”) que desde 2006 se manifesta no centro de Tóquio contra o Natal e o consumismo, e ao mesmo tempo reivindica a “liberdade de não se casar”.

Algo parecido aconteceu este ano em PiaPia, um restaurante especializado em massas da cidade de Hachioji (no oeste de Tóquio), que se negou a atender casais na noite de 24 para não deprimir seus garçons, que estarão trabalhando nessa data, e aqueles que jantam sem acompanhante.

A queda demográfica que o Japão enfrenta, onde as pessoas se casam cada vez menos, cada vez mais tarde e tem menos filhos que antes, acrescentou ainda mais pressão social em torno desta data.

E essa solenidade cada vez maior que rodeia à noite de 24 de dezembro japonesa começou a gerar também receio nos estrangeiros solteiros que vivem no país.

“Quando chegou dezembro muitos começaram a me advertir sobre a importância da noite de 24 e me disseram que se não convidasse uma garota para jantar a coisa com ela não andaria”, contou à Agência Efe um homem de origem europeia que passará seu primeiro Natal no Japão e que preferiu não se identificar.

“Embora haja uma menina com quem saí algumas vezes, é muito pouco para algo sério. Por isso não vou passar a véspera do Natal com ela. Temo que se fizer isso ela espere que em breve a peça casamento”, acrescentou em tom muito sério. EFE

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