Nova rodada de diálogo de paz começa em Cuba rodeada de polêmicas na Colômbia

  • Por Agencia EFE
  • 24/02/2014 20h43
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Havana, 24 fev (EFE).- O governo da Colômbia e as Farc retomaram nesta segunda-feira os diálogos de paz em Cuba para tentar avançar no tema de drogas e narcotráfico e tendo como plano de fundo polêmicas como os escândalos de espionagem, corrupção militar e o último atentado contra a esquerdista União Patriótica (UP).

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) abriram em Havana a 21ª rodada do processo de paz com expressões de “desconfiança”, “preocupação” e críticas em uma declaração lida pelo guerrilheiro “Pablo Catatumbo”, alcunha de Jorge Torres Victoria.

“Iniciamos este novo ciclo com uma grande desconfiança pela espionagem absurda da inteligência militar e da polícia da Colômbia, dirigidos pela CIA, para afetar o processo de paz”, afirmou a guerrilha sobre o escândalo das intercepções de e-mails de negociadores, líderes de esquerda, jornalistas e até ao presidente Juan Manuel Santos.

As Farc também aproveitaram para falar do caso de corrupção no exército colombiano que caiu na mídia há poucos dias, uma polêmica em que, segundo a guerrilha, só foram desmascarados “empecilhos que se alimentam de esbanjamentos e que deixaram quietos os vorazes tubarões, já que os grandes negociados estão nas alturas”.

No último dia 21, o presidente Santos deu uma resposta a esse assunto com a instalação de uma nova cúpula militar e a promessa às Forças Armadas que seu futuro não está em jogo nas negociações de paz com as Farc em Cuba.

As Farc criticaram que tenha se “armado um debate fictício na Colômbia com o conto de fadas de que em Havana o exército está sendo negociado” e lembraram que o tema de “justiça e máximos responsáveis do conflito” ainda não entrou na mesa de conversas.

“Sem dúvida, este será um tema crucial porque deve lançar satisfações fundamentalmente às vítimas do conflito, às partes adversárias e ao país. Do manejo inteligente que tivermos dependerá a reconciliação e a paz na Colômbia”, acrescentaram.

O reatamento dos diálogos de paz de Havana aconteceu no dia seguinte ao atentado contra a candidata presidencial União Patriótica (UP), de esquerda, Aída Avella, que saiu ilesa de um tiroteio contra sua caravana eleitoral ocorrido no domingo na região de Arauca.

Para as Farc, o atentado contra Avella equivale a “balear a credibilidade do processo de paz”, e exigiram das autoridades uma investigação com resultados imediatos.

“Registramos com preocupação e rejeitamos veementemente o atentado contra a candidata da UP”, disse a guerrilha, que reivindicou do governo um “sinal poderoso” para garantir a participação política da oposição.

Diante da série de críticas, o chefe dos negociadores do governo, Humberto de la Calle reprovou que as Farc se coloquem como “juízes” das instituições e das forças militares com desqualificações que não ajudam nos esforços de paz.

“Nossos problemas serão resolvidos pelas nossas instituições, em democracia. As inaceitáveis afirmações das Farc com seu dedo acusador em nada contribuem aos esforços de paz e pelo contrário, nos afastam deste propósito”, disse De laRua em declaração divulgada por sua equipe de imprensa em Havana.

O negociador do governo lembrou à guerrilha que as duas partes estão em Cuba tentar pôr fim ao conflito colombiano e não “para comentar o dia a dia” do país.

“Se as Farc querem participar do debate público, devem avançar rapidamente para um acordo para terminar o conflito e dar mostras concretas do compromisso com os valores e os procedimentos da democracia”, assinalou De la Rua.

Nesta rodada de conversas os delegados de Santos e da guerrilha continuarão a discutir acordos sobre o problema das drogas e do narcotráfico, o tema que atualmente está na mesa de negociação.

No ciclo anterior, as partes começaram a formalizar alguns consensos no que se refere à substituição de cultivos ilícitos de coca, maconha e papoula, a primeiro epígrafe dos três que integram este ponto.

Os outros dois são a prevenção do consumo de drogas e a comercialização, relacionada diretamente ao narcotráfico, fenômeno que nas últimas décadas agravou o conflito colombiano.

Segundo fontes ligadas aos negociadores, o ciclo que começa hoje terminará em 6 de março, três dias antes das eleições legislativas, quando os colombianos elegerão os membros do Senado e da Câmara dos Representantes. EFE

sam/cd

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