Nova tragédia no litoral líbio deixa 100 mortos; 200 pessoas foram resgatadas

  • Por Agencia EFE
  • 28/08/2015 19h00

Mohamad Abdel Malek

Trípoli, 28 ago (EFE).- Apesar da precariedade de seus meios, os serviços de guarda-costeira líbios conseguiram resgatar nesta sexta-feira cerca de 200 pessoas que estavam em duas embarcações que naufragaram na noite de quinta-feira no Mediterrâneo.

As embarcações líbias também retiraram do mar 100 corpos de pessoas que se afogaram quando viajavam a bordo de dois barcos em mal estado que ontem afundaram diante de uma praia da cidade setentrional de Zauara, reduto das máfias.

“Um dos barcos levava 400 pessoas (o outro 50). Cerca de 200 delas procediam de campos de refugiados na província de Trípoli”, explicou à Efe Basam Gharabli, responsável de imigração na cidade de Sabratha.

Gharabli confirmou, além disso, que outras unidades ainda fazem uma busca na zona, já que acredita-se que em torno de cem pessoas ainda estejam desaparecidas.

Aqueles que conseguiram se salvar foram levados a um centro de amparo na cidade setentrional litorânea de Sabratha, vizinha a Zauara e situada a 200 quilômetros de Trípoli, acrescentou.

Muitos deles eram mulheres e crianças, e em sua maioria procediam de países da África Subsaaariana, precisou à Efe o porta-voz dos serviços de alfândega e imigração de Zauara, Anwar Abu Deeb.

O responsável revelou que as autoridades da zona lançaram uma operação policial para tentar neutralizar a atividade das máfias que traficam pessoas e que já foram praticadas várias detenções.

Deeb, porém, se queixou da falta de material logístico para os resgates e de amparo de imigrantes e ajuda por parte da Europa.

“Não podemos saber quantas embarcações deste tipo partiram do norte da Líbia já que toda a operação é feita em segredo”, afirmou Abu Deeb, que disse que a falta de cooperação entre os guarda-costeira da Itália e Líbia beneficia a atividade das máfias.

“A Itália recebe apoio e as embarcações e os equipamentos necessários para fazer frente à imigração ilegal, mas a Líbia não recebe nada. Este assunto deve ser abordado com seriedade” se a vontade for acabar com a atual situação, acrescentou.

Abu Deeb insistiu que a Líbia “quer uma colaboração real com os países do sul da Europa”.

“Os que trabalham no serviço de guarda-costeira líbio têm a sensação de estar trabalhando para proteger a Europa e, ao não receber nem apoio e nem equipamentos, se sentem frustrados” e isso afeta “as operações de resgate” e a luta contra a imigração em uma nação também debilitada pela guerra, acrescentou.

A Líbia é um Estado vítima do caos e da guerra civil desde que em 2011 forças rebeldes apoiadas militarmente pela comunidade internacional derrubaram o regime tirânico de Muammar Kadafi .

Desde então, o país está dividido, com um governo rebelde em Trípoli e outro internacionalmente reconhecido em Tobruk, que lutam pelo controle dos recursos naturais apoiados por membros do antigo regime de Kadafi, islamitas, líderes tribais e senhores da guerra.

Os conflitos são aproveitados pelos grupos jihadistas para ganhar influência e território, mas também pelas máfias dedicadas à imigração irregular à Europa, que neste ano conduziram à morte mais de 2,5 mil pessoas no Mediterrâneo, segundo dados da ONU.

As Nações Unidas asseguram que 310 mil pessoas conseguiram chegar às ilhas gregas e italianas em 2015, número que representa um grande aumento se comparado com as 219 mil que arriscaram sua vida com sucesso em 2014.

Delas, cerca de 200 mil entraram pela Grécia e 110 mil pela Itália, precisou a porta-voz do Acnur, Melissa Fleming.

A de hoje foi a segunda tragédia humana no Mediterrâneo nas últimas 48 horas, depois que na quarta-feira um barco sueco encontrou uma embarcação que tinha saído da Líbia e navegava à deriva com 51 pessoas mortas em seu interior.

O “Poseidon” conseguiu, no entanto, resgatar com vida cerca de 400 pessoas, que foram levadas ao porto italiano de Palermo.

Segundo números de organismos internacionais, cerca de 5 mil pessoas foram salvas das águas mediterrâneas nos últimos sete dias. EFE

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