Novas tecnologias e grandes exércitos alteraram dimensão das guerras

  • Por Agencia EFE
  • 27/07/2014 11h42

Paris, 27 jul (EFE).- As novas tecnologias incorporadas pelos exércitos e o alistamento de milhões de soldados deram uma dimensão mortal e destrutiva inédita à Primeira Guerra Mundial, como ficou visível no norte da França, palco de algumas das batalhas mais lendárias.

Mais de 10 milhões de combatentes morreram neste conflito, no qual foram utilizadas armas até então desconhecidas ou que não podiam ser produzidas em escala industrial pouco tempo antes.

“Essa guerra foi um choque gigantesco” para os países envolvidos porque houve “um mostruário absolutamente enorme de tecnologias” e um número sem comparação de homens envolvidos nas batalhas e na guerra de trincheiras, explicou à Agência Efe o historiador francês François Cochet.

Os fuzis usados a partir de 1914 podiam disparar 20 balas por minuto, em vez de três, como em 1870. Foi feito um uso massivo da metralhadora e a artilharia pesada ganhou especial importância.

Além disso, no conflito foram usados pela primeira vez os gases tóxicos, a aviação, os tanques e os submarinos.

Embora as trincheiras não fossem algo novo, “a novidade absoluta” foi o sistema com sucessivas linhas de defesa que as tornavam difíceis de romper, disse Cochet, especialista em Primeira Guerra Mundial e membro do Conselho Científico Nacional francês para o centenário do conflito.

Ao contrário de alguns estereótipos, houve menos mortes nas fases de guerra de trincheiras (basicamente em 1916 e 1917) do que na de movimentos, mas “a vida ali era horrível”, ressaltou o professor da Universidade de Lorena-Metz.

Quando a frente foi bloqueada, os aliados impediram o abastecimento do império alemão (que teve certa conivência de países neutros como a Holanda e a Dinamarca para exportar mercadorias), sobretudo em matérias-primas como o ferro, fundamentais para continuar o esforço de guerra.

“O bloqueio foi catastrófico para a Alemanha, mas de forma muito tardia” e pesou na derrota final dos impérios centrais, da mesma forma que o esgotamento da população, que estava submetida a restrições de bens básicos, começando pelos alimentos, comentou o historiador.

O líder socialista e antibelicista Jean Jaurès, assassinado em um restaurante do centro de Paris em 31 de julho de 1914 às vésperas da mobilização geral decretada pelo governo francês, é considerado na França o primeiro morto da Primeira Guerra Mundial no país.

Os confrontos com os alemães começaram em agosto com uma série de ataques infrutíferos dos franceses na Alsácia e nas Ardenas belgas, antes que as tropas imperiais ocupassem boa parte da região de Champagne e, após atravessar o rio Ourcq, ficaram a 30 quilômetros de Paris.

Em 22 de agosto, os franceses sofreram em apenas um dia entre 25 mil e 27 mil mortos no front belga, essencialmente por balas e obuses.

A ofensiva alemã parou em setembro, sob o comando do general Joseph Joffre, com a criação de uma frente de cerca de 300 quilômetros no nordeste do país, de Senlis a Verdun, na primeira batalha do Marne.

Em cada um dos seis primeiros meses da disputa, a França teve 100 mil baixas (entre mortos, feridos, prisioneiros e desaparecidos), e os números para os alemães foram equivalentes.

Embora no final da guerra o número de mortos entre os alemães fosse maior em dados absolutos (em torno de 1,9 milhão de pessoas para uma população de cerca de 60 milhões), em termos demográficos o derramamento de sangue foi relativamente maior para a França, com 1,5 milhão de mortos para 40 milhões de habitantes. EFE

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