Nunca é tarde para aprender a ler e escrever na Arábia Saudita

  • Por Agencia EFE
  • 08/09/2014 06h46

Suleiman al Assad.

Riad, 8 set (EFE).- Milhares de homens e mulheres sauditas maiores de 50 anos abandonaram nas últimas décadas a escuridão do analfabetismo com o convencimento de que nunca é tarde para aprender a ler e escrever.

“Tornei-me avó há alguns anos, por isso que sentia um pouco de vergonha em ir a uma escola de alfabetização, já que com meus 53 anos penso que estou às portas da velhice, mas meu marido e filhos me encorajaram a fazê-lo”, disse em declarações à Agência EFE a dona de casa Um Fahd.

Essa indecisão a manteve um tempo duvidando em dar o passo em direção à alfabetização ou não, mas finalmente, decidiu se matricular.

“Após ter assistido a todas minhas aulas em uma escola próxima a minha casa, em Riad, agora posso usar meu telefone celular com maior privacidade e me entretenho mais, já que escrevo minhas mensagens a meu marido e amigas sem pedir ajuda a meus filhos”, assinalou sorridente.

Embora reconheça que ainda seja difícil escrever com facilidade, Um Fahd se sente feliz ao entender as breves mensagens de texto que lhe enviam para seu telefone.

Mais trabalho para ela é ler as legendas em árabe dos filmes estrangeiros.

“Eles mudam muito rápido e não consigo entendê-los, embora saiba que com mais prática conseguirei em breve”, declarou.

Um Fahd pertence a uma geração de mulheres sauditas na qual muitas não puderam ir à escola devido “aos costumes e tradições”, que consideravam a educação das mulheres como algo do qual é preciso sentir vergonha.

Mas a situação mudou a partir do reinado de Faiçal bin Abdelaziz (1964-1975), que com a ajuda de sua esposa Efat al Zanayan conseguiu desafiar as circunstâncias sociais e abrir colégios para as meninas, apesar da forte oposição que enfrentou da parte dos setores conservadores.

Abu Abdelaziz, de 58 anos, se mostrou entusiasmado no dia em que recebeu o equivalente a US$ 266 como recompensa que o governo outorga a todo aquele que se alfabetiza.

“Com esse dinheiro comprei livros para saciar minha sede de leitura. Se tivesse aprendido a ler desde criança teria sido um excelente leitor, por isso tento compensar o tempo que perdi”, ressaltou.

E, sem dúvida, pode fazê-lo já que seu trabalho como vigilante em uma instituição governamental lhe dá “muito tempo para devorar livros”.

Ali al Zahrani, professor de uma escola especializada no ensino a pessoas mais velhas na região de Al Baha (sudeste do país), onde há uma alta porcentagem de analfabetismo, diz que o entusiasmo por aprender difere entre os alunos.

“Varia o entusiasmo e também o desejo, já que alguns deles aprendem a ler em três ou quatro meses, enquanto outros levam dois ou três anos em dominar a leitura”, afirmou.

Além disso, ele disse que além de ensinar, faz um enorme esforço para convencer os adultos mais velhos a aprender a ler e escrever.

“Os idosos se envergonham de ir ao colégio na sua idade, e outros acham que já passou seu tempo de aprender, mas o fato de que cada vez mais deles se inscrevam na escola, anima o resto a se matricular”, concluiu Zahrani.

Com a passagem das décadas, a Arábia Saudita pôde em alto grau combater o analfabetismo, já que conseguiu reduzir o índice de 60% em 1972 para 5,6% neste ano, segundo números oficiais.

Atualmente, no país, há 729 colégios para homens adultos com cerca de 12 mil alunos, e 2.385 escolas femininas com quase 70 mil mulheres.

Números divulgados pelo Departamento Geral de Estatísticas revelam que na Arábia Saudita há mais de 700 mil mulheres analfabetas e ao redor de 426 mil que não sabem nem ler nem escrever bem, embora, como demonstrou Um Fahd, para aprender, nunca é tarde. EFE

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