O complexo quebra-cabeças eleitoral indiano

  • Por Agencia EFE
  • 04/04/2014 20h44
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Moncho Torres.

Nova Délhi, 4 abr (EFE).- A fragmentação partidária e o jogo de alianças terá um papel-chave para os partidos regionais e periféricos da Índia na hora de somar cadeiras parlamentares para governar o segundo país mais povoado do mundo.

Poucos analistas políticos duvidam que os partidos mais votados nas eleições gerais que começam na segunda-feira serão, nesta ordem, o hinduísta Bharatiya Janata Party (BJP) e o histórico Partido do Congresso, que lidera o atual governo.

No entanto, a impossibilidade de conseguir uma maioria que lhes permita formar um governo os obrigará a fazer alianças com alguns dos mais de 350 partidos que formam o panorama eleitoral indiano, uma tarefa árdua devido ao amplo leque de interesses que os movimenta.

Tanto o Partido do Congresso da dinastia Nehru-Gandhi como o BJP contaram tradicionalmente com o apoio de certos partidos com os quais se aliaram para dominar um parlamento com 543 assentos.

O partido da dinastia Nehru-Gandhi lidera a Aliança Progressista Unificada (UPA), com o qual somou nas últimas eleições, em 2009, 262 cadeiras que o elevaram ao poder e com os quais pôde terminar o mandato de maneira mais ou menos estável.

Alguns dos membros mais destacados da UPA são o Partido Nacional do Congresso, uma cisão do governamental Partido do Congresso e que possui oito membros no parlamento, ou a regional Conferência Nacional de Jammu & Kashmir, com três cadeiras.

No entanto, durante seu atual mandato, o congresso viu a UPA se enfraquecer após a saída de seus dois aliados mais importantes, o regionalista Tamil Nadu Dravida Munnetra Kazhagam (DMK) e o partido bengali Trinamul, ambos com 18 cadeiras.

Por sua vez, o BJP lidera a Aliança Democrática Nacional (NDA), que tem muito menos poder no parlamento do que a UPA e que conta com o partido extremista hindu Shiv Sena de Maharashtra, que obteve 11 cadeiras nas últimas eleições, como seu principal apoio.

A fragilidade da NDA provém, segundo diversos analistas, do medo que um partido, o BJP, desperta nas minorias de todo o país. Ele proclama uma Índia só para os hindus, e que os demais credos deverão se sujeitar a seus desígnios.

Como alternativa aos dois blocos principais está a “Terceira Frente”, formada por uma dezena de partidos regionais e comunistas que se definem como “seculares e de esquerda” e que teriam 92 cadeiras se somassem seus atuais postos no parlamento.

A principal força nesta aliança é o Partido Samajwadi (SP), que governa o estado mais populoso da Índia, Uttar Pradesh, e conta com 21 cadeiras, sendo a terceira legenda mais votada – empatada com o Bahujan Samaj Party (BSP) – após o Partido do Congresso e o BJP.

Alianças como a “Terceira Frente” para desgastar os partidos nacionais já foram negociadas em várias ocasiões, embora seus integrantes costumem se dispersar ou mudar de lado segundo seus interesses.

A última experiência de governo que não incluía os grandes partidos aconteceu em 1996-98 a chamada “Frente Unida”, que em breve se desmoronou e causou uma antecipação eleitoral.

À margem destas alianças estão grandes partidos independentes, cujo respaldo às principais formações dependerá do poder de negociação de seus membros.

O BSP – cujo reduto de votos são os “dalit”, ou intocáveis – é o principal rival do SP em Uttar Pradesh, sobretudo se for levado em conta o sistema indiano, no qual o partido mais votado em um distrito eleitoral conquistar todas as cadeiras.

A líder do BSP, a carismática Mayawati, presidiu durante quatro mandatos Uttar Pradesh, estado onde obteve o total de suas cadeiras no parlamento de Nova Délhi, apesar de sua vocação de partido nacional a ter levado a se candidatar em mais distritos do que nenhum outro partido: 500 dos 543 distritos eleitorais da Índia.

Outra legenda que tenta pela primeira vez obter uma posição privilegiada no parlamento e roubar votos do Partido do Congresso e do BJP é o recém-criado AAP (Partido do Homem Comum), liderado pelo ativista anticorrupção Arvind Kejriwal.

Mas a batalha nacional será diferente, e como afirmou o analista Milan Vaishnav, a incessante criação de partidos em regiões saturadas de representação transformará os políticos em “canibais”, capazes de se aniquilar por um punhado de votos. EFE

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