“O debate está todo mal colocado”, diz Schwartsman sobre autonomia do BC
Schwartsman foi Diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central de 2003 a 2006. Depois
Alexandre SchwartsmanO ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman está no olho do furacão. Foip rocessado recentemente por causa da dureza nas críticas contra o próprio BC (a juíza não aceitou a acusação por injúria). A política econômica do Banco, aliás, ganhou força política de discussão eleitoral nos últimos dias, após propaganda de Dilma Rousseff condenando a proposta de Marina Silva de dar autonomia ao BC.
Por se discutir poiticamente em independência do Banco Central, em vez de autonomia, o ex-diretor acredita que “o debate está todo mal colocado”.
“O que se discute é autonomia, não independência”, faz questão de diferenciar Schwartsman. “A autonomia que tínhamos (quando era diretor da instituição à época do governo Lula) era de ação, não de objetivo”, afirma ao lembrar que quem estipula metas para serem seguidas pelo Banco Central ainda é o Governo Federal. “Autonomia não significa que o governo deixe de indicar o presidente da instituição”, argumenta também.
A autonomia ideal que Schwartsman propõe é aquela em que o presidente do Banco Central do Brasil tem um mandato de três ou quatro anos no qual não pode ser demitido, a não ser por motivos muito bem explicitados em lei.
“Quando eu vejo as críticas da presidente Dilma à autonomia do Banco Central, daí eu começo a compreender por que o Banco Central do Brasil tem tido esse desempenho tão pífio como foi observado nos últimos anos”, conclui.
“A função do Banco Central que cumpra o seu papel é manter a inflação perto de objetivos que sequer o BC define”, explica o economista. “Em alguns momentos é subir juros, em outros momentos é cortar juro.”
“Quando você tem um Banco Central que é percebido pela sociedade como autônomo, normalmente você tem taxas de juros mais baixas e sustentáveis”, avalia Schwartsman.
O ex-diretor ainda rebate a acusação política de que dar autonomia à instituição é entregar a economia aos bancos privados e cita o FED, dos EUA, e os bancos centrais da Inglaterra e o europeu.
O Banco Central em junho estava projetando a inflação para 2015 em 6%, sendo que a meta é 4,5%. Nesse contexto, “o BC deveria subir juro, essa é a regra”, atesta Schwartsman. O economista explica que o que se tentou fazer neste último governo foi “explorar uma possível troca entre inflação e crescimento”.
“A escolha é horrorosa”, opina.
Schwartsman analisa que “isso (o debate) só virou o que virou porque Marina Silva se disse favorável à autonomia do Banco Central”. Ele diz lembrar da própria Dilma dizendo que o BC era, sim, autônimo, embora reconheça nunca ter acreditado muito no discurso da atual presidente.
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