O desafio de ser mulher e fazer política na África

  • Por Agencia EFE
  • 14/05/2015 16h03
  • BlueSky

Jèssica Martorell.

Adis-Abeba, 10 mai (EFE).- As africanas que desejam mudar seus países pela via política tem algo em comum: não se rendem diante das dificuldades que enfrentam diariamente e seu progresso se transformou em um exemplo para todas as mulheres que lutam pela igualdade de gênero em um espaço historicamente dominado por homens.

Muitos países africanos estão acima da média global dos 22% de representação feminina nos parlamentos, entre eles Ruanda, que com 64% é o país com o maior número de deputadas de todo o mundo, segundo os dados do Banco Mundial.

Apesar das estatísticas, ser mulher e política na África não é fácil, é preciso ser valente para embarcar nesse desafio e conseguir se fazer ouvir.

Nadifa Mohammed Osman, engenheira, entrou em 2012 no parlamento da Somália – onde só 14% das cadeiras são ocupadas por mulheres – porque queria mudar seu país e provar que as mulheres podem ter lugar na política.

Somente dois anos depois se tornou ministra de Obras Públicas e Reconstrução.

“Era a única mulher com um alto perfil no Ministério. As mulheres eram apenas faxineiras, todo os demais homens. Não foi fácil trabalhar com essa situação”, contou à Agência Efe.

Durante o ano em que ocupou o cargo, ela sofreu o desprezo de muitos de seus colegas, mas, apesar disso, continuou lutando por seus valores e tentou recrutar várias engenheiras para o Ministério.

“Muitos achavam que não estava preparada para o posto, que uma mulher não podia liderar um ministério, nem dizer a eles o que tinham de fazer. Isto dificultou enormemente o trabalho”, explicou.

Fora de seu gabinete, como parlamentar, Osman mantém sua batalha para equilibrar uma sociedade que encurrala as mulheres fora das esferas de decisões importantes.

O primeiro passo, opinou, é criar uma lei de paridade que garanta a presença feminina no parlamento, “porque não há nenhuma norma que regule o processo de seleção dentro dos partidos, é o clã que se encarrega disso”.

Em Serra Leoa as mulheres não têm facilidades para impulsionar sua liderança. Hon Veronica Sesay, que tem 54 anos e está há dez na política, reconheceu que o caminho esteve infestado de dificuldades.

“Este é um mundo cheio de homens, fui humilhada muitas vezes”, confessou à Efe esta leonesa que tenta mudar a percepção que seu país tem sobre a mulher a partir do parlamento, onde somente 12% são mulheres.

“Se não houver mulheres na representatividade elas se tornam seres mais vulneráveis. Se ficarem sem uma voz que exponha suas reivindicações e sem ninguém que escute suas demandas”, alertou.

Um dos grandes obstáculos que as mulheres enfrentam na hora de avançar em sua carreira política é a falta de financiamento.

“Por razões de tradição, o financiamento é muito complicado. Os homens contam com muito mais recursos, o que torna ainda mais difícil concorrer contra eles”, lamentou Sesay.

Em outros países do continente a situação melhorou nos últimos anos, como na Etiópia, onde as mulheres passaram de um irrelevante 2,3% das cadeiras em 1995 para os atuais 33%.

“Não me senti discriminada na hora de entrar na política”, afirmou Chernet Haile Mariam, que há cinco anos é deputada no parlamento etíope.

Em outros países ainda há muito mais a fazer, como por exemplo na Costa do Marfim e em Botsuana, onde só 9% de suas parlamentares são mulheres.

Estas histórias, tão diversas como a África, são apenas um pequeno exemplo da luta contínua feminina.

Osman, Sesay e Mariam participaram da última edição do Fórum Global de Mulheres Parlamentares (WIP) realizado em Adis-Abeba, onde trocaram suas experiências com mais de 400 colegas.

Seus sucessos, derrotas e desafios são agora fonte de inspiração para parlamentares de todo o mundo, que tentam fazer com que a igualdade na política deixe de ser uma utopia. EFE

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.