O drama oculto dos latinos que ajudaram a reconstruir Nova Orleans

  • Por Agencia EFE
  • 10/09/2015 12h20

Jairo Mejía.

Nova Orleans (EUA), 10 set (EFE).- Os latinos que chegaram aos Estados Unidos após o furacão “Katrina” para reconstruir Nova Orleans receberam o nome de “cazahuracanes” (“caça-furacões”) e foram empregados com falsas promessas, explorados até o limite e deportados quando não faziam mais falta.

Uma década se passou e bairros de Mid-City em Nova Orleans adquiriram um inequívoco sabor latino, mas muitos imigrantes continuam ameaçados pela deportação, condenados a ser cidadãos de segunda classe.

Após o desastre do “Katrina”, os recursos para iniciar a faraônica reconstrução da cidade começaram a ir para empresas terceirizadas que fizeram vista grossa e começaram a contratar imigrantes ilegais, ameaçando-os com a deportação caso exigissem condições melhores.

“Depois se deram conta de que havia uma forma mais barata e que, além disso, é legal”, destacou em declarações à Agência Efe Daniel Castellanos, o peruano que fundou a Alianza de Trabajadores Huéspedes (NGA), em 2007.

A forma mais barata é o visto de trabalho temporário. Os trabalhadores são recrutados em seus países de origem, tem que pagar todos os trâmites e a viagem (muitos deles acumulando dívidas) e, quando chegam, muitas vezes as condições não são as prometidas.

A história de Castellanos é a mesma de milhares de latinos que chegaram à Louisiana após o furacão e que seguem sendo explorados.

A ele foi prometido um visto H-2B para trabalhar na construção por US$ 15 (perto de R$ 60) a hora após pagar US$ 5 mil (quase R$ 20 mil) no processo. Quando chegou, o trabalho era em um hotel e a remuneração era de apenas US$ 5 (R$ 20). Além disso, a estadia e a comida também eram cobradas.

“Dormíamos em espreguiçadeiras com ratos e baratas e depois soubemos que a comida que a gente pagava era doação do governo federal. Agora, além da construção e da indústria pesqueira, também há os estaleiros. Têm imigrantes soldando e respirando gases tóxicos. Quando acontece algo ruim, o empresário se faz de desentendido”, criticou Castellanos.

Os Estados Unidos reservam anualmente mais de 120 mil vistos H2 para trabalhadores estrangeiros temporários. A maioria é usada nos campos de cultivo, na construção ou no setor de hotelaria em todo o país.

“É um trabalhador refém. É tratado como uma coisa e não como um ser humano”, lamentou Castellano, que contou que seu grupo se organizou em tornou de uma causa comum com os afro-americanos e outros grupos esquecidos do sul dos EUA.

A advogada do Southern Poverty Law Center (SPLC), Meredith Stewart, afirmou que essas pessoas são forçadas a continuar trabalhando com um empregador, apesar de haver abuso, porque não querem voltar com dívidas.

“O avanço é lento e ainda falta muito”, disse Meredith, que ressaltou que após anos de pressão e trabalho conseguiram com que o Departamento de Trabalho criasse novas regulações para que sejam pagos salários dignos e o trabalhador não seja obrigado a bancar a promessa de um sonho que não é cumprido.

No mês passado, o presidente do maior sindicato do país, AFL-CIO, Richard Trumka, afirmou que a falta de uma reforma migratória, que mantém como clandestinos mais de 11 milhões de imigrantes, é utilizada por empresas para satisfazer “sua dependência de mão-de-obra barata”.

No início deste ano, o SPLC, que ajudou na representação legal dos litigantes, obteve uma grande vitória na defesa de trabalhadores indianos que também foram atraídos com falsos empregos temporários.

A sentença histórica acusava empresários de crimes que costumam recair nas máfias que trazem imigrantes ilegais aos Estados Unidos: tráfico de pessoas, trabalho forçado e desvio de dinheiro. EFE

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