O incômodo silêncio de Hollywood diante do conflito palestino-israelense

  • Por Agencia EFE
  • 05/08/2014 06h22
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Fernando Mexía.

Los Angeles (EUA), 5 ago (EFE).- Hollywood, indústria que reúne vários e reconhecidos judeus, assiste a última explosão do conflito palestino-israelense em silêncio, e não por falta de opiniões, mas por uma prudência profissional que recomenda não se posicionar publicamente em um tema tão sensível.

Essa postura de aparente neutralidade é a norma quando os confrontos no Oriente Médio recrudescem e é adotada pela maioria, salvo em contadas exceções que confirmam que em casos como este o mais seguro é se calar.

O blog Hollywood Jew, da publicação “Jewish Journal”, meio de referência para a comunidade judaica nos Estados Unidos, questionou o fato de nem o diretor Steven Spielberg, nem o executivo-chefe da DreamWorks Animation, Jeffrey Katzenberg, terem se pronunciado sobre a atual crise.

Nessa mesma lista estava Barbra Streisand, defensora muito ativa dos direitos sociais, mas que não disse nada ainda sobre o que acontece em Gaza, do mesmo modo que o vice-presidente da NBC Universal, Ron Meyer.

“Quase sempre os famosos saem perdendo quando se atrevem a assumir uma posição em situações controvertidas”, comentou a autora do blog, a jornalista Danielle Berrin. “Se dá sua opinião, provavelmente será criticado, se fica em silêncio, se sentirá envergonhado”, acrescentou.

“Não é um tabu falar do que acontece entre Israel e Palestina, mas as pessoas não se sentem 100% confortáveis porque alguns entendem o quão complexo é este assunto”, disse à Agência Efe um executivo judeu de Hollywood que preferiu manter o anonimato.

Este diretor, cuja empresa participa de superproduções, acredita que há uma excessiva atenção midiática ao que acontece na Faixa de Gaza, um conflito que qualificou de “pequeno” comparado com a situação na Síria.

Nos últimos três anos de guerra civil na Síria mais de 170 mil pessoas morreram, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. Desde o início da ofensiva israelense em Gaza no último dia 8, e em pouco mais de quatro semanas morreram mais de 1.800 palestinos, dois terços deles civis, e 63 soldados israelenses, segundo fontes oficiais.

Esse executivo considerou que o antissemitismo está aumentando, especialmente na Europa, onde disse que a imprensa assumiu uma posição pró-palestina e prefere mostrar imagens do sofrimento da população em Gaza.

Nesta semana Javier Bardem, Penélope Cruz e Pedro Almodóvar ganharam as páginas da imprensa de Hollywood ao assinarem uma carta que acusava o exército de Israel de “perpetrar um genocídio” contra a população civil palestina.

A essas manifestações se somaram a outras mais sutis de Rihanna, Selena Gómez e do apresentador de televisão judeu John Stewart, que em seu programa “The Daily Show” criticou a ofensiva israelense por considerá-la desproporcional. Todos, de uma maneira ou outra, acabaram se retratando ou suavizando suas posições.

“As pessoas tendem a dar sua opinião com muita rapidez. É um conflito intrincado, difícil de entender. Quando ouço que Javier Bardem e Penélope Cruz falam de genocídio penso que não entendem o que se passa”, disse o diretor.

Para ele, as declarações dos atores espanhóis não foram antissemitas, mas ignorantes, apesar de muitos críticos, alguns do jornal “Jerusalem Post”, os acusarem de “ter passado dos limites e ter caído num imperdoável antissemitismo”.

O que considerou “uma mentalidade muito antissemita” é a ideia difundida nos corredores de Hollywood de que se alguém faz uma crítica a Israel não vai conseguir trabalho nunca mais.

“Isso não é verdade. Pensar que os judeus controlam tudo é o que pensavam os alemães em 1939. Estamos em 2014, as coisas mudaram. As pessoas te julgam por sua posição política, mas até certo ponto. Elas te contratam porque é bom para fazer um trabalho” opinou o executivo. EFE

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