O movimento rebelde xiita que desafia as autoridades do Iêmen
Cairo, 20 jan (EFE).- O movimento rebelde xiita dos houthis tomou nesta terça-feira o palácio presidencial de Sana e bombardeou a residência do presidente Abdo Rabbo Mansour Hadi, em um novo golpe em sua disputa com as autoridades do Iêmen, país que está imerso há meses em uma crise.
Também conhecidos como Ansar Alah (Seguidores de Alá), os houthis são fiéis ao clérigo Abdelmalek al Houthi, sucessor do fundador do movimento Hussein Badrudin al Houthi, pai de Abdelmalek e morto em um enfrentamento com o exército em 2004.
De confissão muçulmana, são xiitas do ramo dos zaiditas, que representam entre 30% e 50% dos 25 milhões de habitantes do Iêmen, o país mais pobre da península arábica.
Seu principal reduto é a província de Saada, no norte do país, controlada por eles desde 2010, embora nos últimos meses tenham expandido seu domínio para outras regiões do país, incluindo a capital Sana.
O conflito armado com o governo central explodiu em meados de 2004. As revoltas foram sufocadas pelo exército, apoiado pelas forças armadas sauditas.
Em agosto de 2009, um novo surto de violência colocou as milícias houthis e as forças leais a Sana em confronto. Estas últimas solicitaram a ajuda de Riad para sufocar a rebelião, que durou até fevereiro de 2010. Centenas de pessoas morreram e milhares foram obrigadas a abandonar seus lares.
Com a explosão da Primavera Árabe em 2011, que provocou a renúncia do então presidente Ali Abdullah Saleh em favor de Hadi, os houthis se uniram aos protestos com a esperança de verem suas reivindicações cumpridas.
Hadi se comprometeu a elaborar uma nova Constituição e a convocar eleições legislativas e presidenciais em 2014.
Dentro de sua política de reconciliação ele convocou uma Conferência Nacional para o Diálogo que terminou em janeiro de 2014, e que teve a participação de diferentes forças que acordaram a criação de uma federação composta por seis estados.
No entanto, os houthis, que só aceitam um Estado de duas províncias, e outros grupos do sul do país denunciaram o enfraquecimento da política de diálogo.
As tensões pelo fracasso das conversas, somadas à decisão do governo de retirar os subsídios aos combustíveis suscitaram uma onda de protestos dos houthis, que a partir de 19 de agosto começaram a cercar os arredores da capital para pressionar o governo.
Apesar de Hadi ter respondido com a redução de preços dos combustíveis e feito um acordo com os rebeldes, em 19 de setembro os houthis invadiram Sana e em poucos dias tomaram o controle de um grande número de instalações militares e governamentais.
Graças à mediação da ONU, os houthis e Hadi assumiram um novo compromisso, e o então primeiro-ministro Mohammed Salem Basandawa renunciou para facilitar a formação de um governo de consenso, que seria liderado por Khaled Mahfuz Bahah, designado premiê em 13 de outubro.
O pacto ainda estipulava, além da retirada dos milicianos houthis das cidades, a presença deste movimento em todos os órgãos do Estado, tanto civis como militares.
Por isso, nas últimas semanas, pessoas ligadas aos houtis foram nomeadas para postos de grande importância, como é o caso do general Abdelrazeq al Maruni, designado chefe das Forças de Segurança Especiais.
Mesmo assim, Ansar Alah, com o jovem Abdelmalek na liderança, reivindica que a elaboração da nova Constituição seja interrompida, mais participação no poder, um pacto contra a corrupção e a aplicação dos acordos de setembro de 2014.
Os houthis não só não deixaram a capital, conforme estipulado nos pactos, como estenderam seu controle a outras seis regiões do país.
Essa expansão aumentou as tensões com a organização terrorista Al Qaeda, muito presente no sul do Iêmen e que domina várias tribos. EFE
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.