O nascimento silencioso de um novo assentamento judaico
Daniela Brik.
El Aroub (Cisjordânia), 9 jun (EFE).- Um complexo que abriga vários prédios que pertenciam à Igreja Presbiteriana está no centro da polêmica após ser divulgado que foi adquirido com o objetivo velado de transformá-lo em um novo assentamento judaico.
Situado entre os distritos cisjordanianos de Belém e Hebron, ocupados por Israel em 1967, o complexo compreende 3,8 hectares e inclui oito prédios, dois deles centrais que serviram como um hospital para tuberculosos em sua origem em meados de século passado, e posteriormente atendeu doentes da região até cair em desuso.
Aparentemente, o marco deste assentamento incipiente é idílico, pois apesar de seu difícil acesso, o ambiente em volta é o mesmo do hospital de antes, rodeado por lavouras cultivadas por palestinos de aldeias vizinhas como Beit Umar e Beit Fayar, e pelo campo de refugiados de Aroub.
Além disso, fica encravado não longe de outras colônias judaicas de Gush Etzion, um dos grandes blocos de assentamentos que o governo israelense quer continuar controlando em um acordo que ponha um fim ao conflito com os palestinos.
Atrás dos muros de pedra e de uma cerca de espinhos, aparentemente recentemente colocada, o recinto pode dar lugar a até 20 famílias e abriga vinhas e um pomar primorosamente cuidados por uma família palestina que permaneceu tomando conta do local.
Tanto o jornal “Haaretz”, que informou sobre o caso, como a organização israelense Paz Agora assinalam que nem sequer os inquilinos viram um só colono envolvido na compra ou tinham conhecimento do porquê se tinha começado a reformar várias estruturas.
Nader Samara, um palestino que trabalha ali, relata que as obras de reforma começaram cinco meses atrás e que pararam.
“Não sabemos o porquê. O que sabemos é que querem abrir o hotel nos dois (grandes) prédios” explicou, em poucas palavras, este jovem encarregado que viveu toda sua vida no estabelecimento, que também foi um hotel até o ano 2000.
Ele desconhece a ordem judicial ditada para que as obras fossem interrompidas, ordem esta emitida pela Administração Civil, organismo militar israelense que administra os assuntos civis nos territórios ocupados, pois aparentemente, não havia permissão de construção.
As denúncias apontam para um poderoso grupo pró-colonos com capital financiado do magnata americano Irvin Moskowitz e que impulsiona a aquisição de propriedades palestinas, sobretudo em Jerusalém, que deu um novo impulso e comprou a propriedade através de um complexo e secreto negócio, com o objetivo de transformar o antigo hospital em uma hospedaria para turistas.
A Igreja Presbiteriana vendeu o imóvel a uma corporação sueca criada por um casal cristão conhecido por sua defesa de Israel, que uma vez registrado pela Administração Civil, o transferiu à empresa vinculada a Moskowitz, afirma o “Haaretz”.
O prefeito do conselho local de Gush Etzion, Dadvidi Perl, explicou que o recinto foi adquirido há sete anos, mas que só conheceu a notícia este ano e que há um mês solicitou ao Ministério da Defesa que realize sua regularização.
“Como autoridade municipal estamos muito contentes que se transforme em um hotel em um local estratégico de Gush Etzion”, disse antes de explicar que receberá principalmente judeus e cristãos.
Mas na frente do complexo turístico, organizações e partidos de esquerda israelenses consideram que se trata do nascimento de um novo assentamento, da mesma forma que aconteceu em Hebron em 2007 com um edifício que finalmente conseguiu a assinatura do ministro da Defesa e é hoje uma colônia.
“Está em pleno território palestino e embora o chamem de hotel ou albergue, se trata de um assentamento que será habitado por colonos e que o exército israelense terá que protegê-lo”, lamentou Jaguit Ofran, especialista na proliferação de colônias da Paz Agora.
A chefe do partido de esquerda Meretz, Zahava Gal-On, pediu explicações ao primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.
“O método dos colonos é criar fatos no terreno e embora estejam envolvidos estrangeiros a ideia é controlar todo o território e impedir a continuidade territorial de um Estado palestino”, censurou.
Já o trabalhista Miki Rosenthal condenou o que considerou “uma tentativa pirata impulsionada por milionários não israelenses que compram propriedades para transformá-las em outra coisa”.
Isso quando a comunidade internacional pressiona Israel para que retome o processo de paz e Netanyahu pede que se fixem os limites dos blocos de assentamentos na Cisjordânia. EFE
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