“O que interessa não é a mudança nos nomes, mas a mudança da prática”, diz ex-diretor da Petrobras, Ildo Sauer

  • Por Jovem Pan
  • 04/02/2015 17h00

Graça Foster Ricardo Borges/Folhapress Graça foster

Graça Foster e mais cinco diretores da Petrobras renunciaram ao cargo e novos executivos serão eleitos em reunião do Conselho de Administração ainda nesta sexta-feira (6).

Em meio às investigações de escândalos de corrupção e dificuldades na gestão da estatal, que tem dificuldade de quantificar os prejuízos com fraudes em contratos de obras, o Governo busca uma diretoria composta por nomes do mercado e que sejam ligados ao setor do petróleo.

Em entrevista a Anchieta Filho, o ex-diretor de Gás na Petrobras, Ildo Sauer destacou que o que ocorre é a instrumentalização de empresas públicas como espaço de acerto dos governos de coalisão. “Os dirigentes de empresas estatais e de órgãos públicos são indicados a partir de coalisão entre parlamentares de vários partidos, muitas vezes que ocupam aquele espaço. E não raro, como se tem comprovadamente agora a missão principal desses dirigentes é transformarem-se em despachantes de interesse. É lamentável para uma empresa como a Petrobras, que foi submetida a esse processo de desgaste”, explicou Sauer.

Pelas próprias denúncias de gerentes e dirigentes, a “deterioração” da Petrobras já vem de longe: “nos anos 90, anos 2000, essas denúncias já vinham acontecendo”.

Para Ildo Sauer, o que realmente interessa não é apenas a mudança dos nomes no comando da estatal, mas sim a mudança da prática, acabar com o loteamento político e a interferência do Governo. “Empresas públicas têm que ser geridas como empresas buscando a eficiência, tendo foco uma estratégia de eficiência empresarial e ao mesmo tempo cumprir o papel estratégico que a área de energia, de petróleo e gás tem para um país como o Brasil”, afirmou o ex-diretor.

O Conselho de Administração é fixado em dois pontos, como bem ressaltou Suer. “o primeiro é definir o plano estratégico de para onde a empresa caminha. O segundo é acompanhar e fiscalizar a gestão da diretoria de cada um dos diretores”, disse. “Aparentemente o Conselho de Administração fracassou nessas duas missões, o que nos levou a esse impasse”, completou.

Para Sauer, o Conselho de Administração precisa ter um trabalho efetivo de acompanhamento e definições estratégicas, bem como um acompanhamento da situação energética, do petróleo e gás no mundo. “Está numa hora de uma mudança radical na concepção de como se dirige a Petrobras e como se fiscaliza a sua gestão. As mudanças são necessárias”, defendeu.

Sauer ainda destacou que é necessária uma legislação brasileira que tire da esfera da influência política, do loteamento em governos de coalisão, a capacidade de nomeas dirigentes. “Acho que tem que ter um processo diferente de recrutamento, que preserve a capacidade técnica e não submeta dirigentes a pressões por parte da base de apoio político-econômica do Governo e que tende a transformar dirigentes em despachantes de interesse, como se tem visto notoriamente”, relatou.

O ex-diretor da Petrobras ainda disse que sua grande preocupação e com a preservação da estatal, com a mudança de paradigma, que de fato recoloque a Petrobras na trajetória que ela precisa ter e no papel que ela precisa exercer.

Apesar da situação dramática em que a gestão da Petrobras se encontra, Sauer destacou seus dois grandes ativos: “A Petrobras recebeu neste ano, pela terceira vez consecutiva, o mais alto prêmio mundial de capacitação tecnológica em águas profundas. A Conferência, ocorrida no Texas, Estados Unidos, outorgou em 2015 o reconhecimento da capacidade da Petrobras por sua ação inovadora em plano mundial no pré-sal”. Sauer ainda completou sobre tais ativos: “a capacitação tecnológica e os ativos de reservas são os dois grandes ativos que precisam ser preservados”.

*Ouça a entrevista completa de Ildo Sauer para o Jornal Jovem Pan

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