O sombrio casal por trás do desaparecimento de 43 estudantes mexicanos
Raúl Cortés.
Cidade do México, 4 nov (EFE).- Com uma sombria aliança que vai além dos votos matrimoniais, o ex-prefeito do município mexicano de Iguala e sua esposa tinham um longo histórico de atos sangrentos e laços com o crime organizado antes de serem detidos nesta terça-feira pelo desaparecimento de 43 estudantes de magistério há mais de um mês.
À espera que as autoridades encontrem Felipe Flores, o secretário de Segurança Pública e principal responsável policial de Iguala, José Luis Abarca e María de los Angeles Pineda são considerados peças-chave neste caso que deu a volta ao mundo e abalou o México.
Com duas filhas de 24 e 17 anos e um filho de 14, o casal havia desaparecido no último dia 30 de setembro após ele pedir uma licença de 30 dias.
Isso aconteceu apenas quatro dias após uma violenta ação coordenada pela polícia local e o grupo mafioso Guerreros Unidos contra um grupo de estudantes da Escola Rural Normal de Ayotzinapa, no estado de Guerrero.
Aquele incidente, ocorrido em uma sangrenta noite que Iguala nunca esquecerá, terminou com seis mortos a tiros e o desaparecimento de 43 jovens, que as autoridades seguem sem encontrar apesar das intensas investigações e o desdobramento de policiais e militares por todo o território nacional.
Segundo relatou Abarca em entrevista à emissora mexicana “Radio Imagen” um dia antes de desaparecer, naquela noite ele estava em um ato público, a apresentação do segundo relatório de gestão do Sistema Integral para o Desenvolvimento da Família (DIF) conduzida por sua esposa, titular do organismo.
Enquanto o casal dançava ao som da alegre música do show que encerrou aquele evento, que marcava o início da campanha de Pineda para substituir seu marido na prefeitura, em outro ponto da cidade acontecia a tragédia, da qual Abarca tentou se afastar desde o início
“Não fui eu que dei a ordem, minha ordem foi única e exclusivamente que não tocassem em nenhum estudante e que não lhes acontecesse absolutamente nada”, garantiu.
Sua fuga e os depoimentos de algumas das mais de 50 pessoas detidas por este caso, entre policiais pagos pelo crime organizado e membros dos Guerreros Unidos, parecem assinalar o contrário, da mesma forma que vários fatos do passado que marcaram com sangue a trajetória de Abarca e Pineda.
Recentemente, a senadora Dolores Padierna, da força política com a qual Abarca chegou ao poder, o esquerdista Partido da Revolução Democrática (PRD), acusou o ex-prefeito de assassinar Arturo Hernández, dirigente desse grupo na prefeitura de Iguala e seu adversário político.
Segundo uma denúncia apresentada por uma testemunha daquele crime – ocorrido em 2013 -, após ordenar que torturassem Hernández, Abarca declarou à vítima que “teria o prazer” de matá-la e disparou duas vezes, uma delas no rosto.
Padierna acrescentou ainda que “o prefeito era o chefe desse grupo de policiais dedicados a matar”.
Outros meios de comunicação envolvem-no também com o assassinato a tiros do síndico administrativo Justino Carbajal, sobrinho de um ex-prefeito de Acapulco, ocorrido também no ano passado.
Mas se o histórico de Abarca é tenebroso, parecido é o de María de los Angeles Pineda, a quem alguns consideram o cérebro da rede criminosa idealizada com seu marido e o secretário de Segurança Pública municipal.
Segundo a Procuradoria Geral da República, um líder do grupo Guerreros Unidos detido nas últimas semanas por este caso apontou Pineda como “a principal operadora de atividades delitivas” na prefeitura, “em cumplicidade” com seu marido e Flores.
Além disso, a PGR assegurou que a mulher “é parente em grau direto de dois operadores financeiros do grupo que era dirigido por Arturo Beltrán Leyva”, o cartel dos Irmãos Beltrán Leyva.
Dono de um dos colégios mais importantes de Iguala, Abarca se dedicou em sua juventude à venda de chapéus e teve uma joalheria.
Seus negócios lhe permitiram construir o único shopping center com ar condicionado em todas suas instalações e várias salas de cinema desse município, o terceiro em tamanho do estado de Guerrero com 130.000 habitantes.
O centro comercial e sua luxuosa residência foram atacados nas últimas semanas por grupos de encapuzados no marco dos protestos sociais gerados pelo desaparecimento dos 43 estudantes.
Como empresário, Abarca havia flertado com o Partido Revolucionário Institucional (PRI) e o PRD, ao qual se uniu para ser candidato à prefeitura nas eleições que venceu em 2012. EFE
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