Obama autoriza famílias de reféns de jihadistas a pagarem resgate
Lucía Lea.
Washington, 24 jun (EFE).- O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou nesta quarta-feira que o governo poderá se comunicar com os grupos terroristas que tenham a americanos sequestrados no exterior , e que não processará nenhum familiar desses reféns que decidirem pagar um resgate pela libertação.
Obama reconheceu que houve erros na forma como sua administração lidou com os parentes dos reféns americanos no exterior, após se reunir na Casa Branca com 40 parentes de americanos que estiveram ou estão sequestrados no mundo todo.
“Houve vezes em que nosso governo, apesar de suas boas intenções, os decepcionou. Prometi a eles que podemos fazer melhor”, indicou Obama.
O líder anunciou uma série de mudanças na política do governo em relação aos americanos sequestrados no exterior e seus familiares, após completar uma revisão encomendada por ele mesmo ano passado depois das queixas de várias famílias.
Essas críticas se acentuaram por causa dos reféns americanos que foram decapitados pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI). No último ano quatro norte-americanos foram assassinados: os jornalistas James Foley e Steven Sotloff e os trabalhadores humanitários Peter Kassig e Kayla Müller.
Vários parentes desses e outros americanos sequestrados qualificaram de incoerente a assistência dada pelas autoridades, e alguns afirmaram ter recebido ameaças de serem julgados se pagassem um resgate para libertá-los.
O governo dos EUA mantém há décadas a posição de não pagar resgate pela libertação de americanos sequestrados por terroristas, e hoje Obama ressaltou que essa política continua de pé.
“Acredito firmemente que se o governo dos Estados Unidos pagar resgates a terroristas se arriscaria a pôr em perigo mais americanos e financiaria o terrorismo que estamos tentando parar”, afirmou.
No entanto, esclareceu que o Departamento de Justiça não vai processar nenhum americano que decidir pagar por conta própria o resgate de seu familiar sequestrado, apesar de uma lei americana tipificar como crime entregar dinheiro ou ajuda material a organizações terroristas.
“A última coisa que deveríamos fazer é aprofundar a dor de uma família com ameaças como essas”, sustentou Obama.
Obama matizou também que o fato de o governo americano se negar a fazer “concessões” a organizações terroristas não significa que não possam se comunicar com esses grupos, especialmente para ajudar as famílias.
“Quando for apropriado, nosso governo pode assistir a essas famílias e aos esforços privados (para libertar os reféns) nessas comunicações, em parte para garantir a segurança dos membros da família e garantir que não sejam fraudados”, explicou.
Mais de 30 americanos permanecem sequestrados hoje no mundo todo, informou a assessora de Obama para a segurança nacional e antiterrorismo, Lisa Monaco, em entrevista coletiva.
Entre as medidas anunciadas hoje, decretadas em uma ordem executiva que não exige a aprovação do Congresso, está também a criação de um centro de coordenação da resposta à tomada de reféns, com sede no FBI.
Esse centro contará com uma pessoa “dedicada a coordenar o apoio que as famílias obtêm do governo”, segundo Obama, que nomeará em breve um “enviado especial presidencial para assuntos de reféns”, centrado em “liderar os esforços diplomáticos com outros países” para conseguir a libertação desses americanos.
O anúncio de Obama levantou críticas de alguns republicanos, entre eles o presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner, que consideram que as consequências serão as mesmas se as organizações terroristas receberem um resgate das famílias ou do governo.
“Durante mais de 200 anos tivemos uma política de não pagar resgates e não negociar com terroristas. O que me preocupa é, ao suspender este princípio, pôr mais americanos em perigo, aqui e no exterior”, disse Boehner.
EFE
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