Obama começa a construir legado com histórico avanço na relação com Cuba
Elvira Palomo.
Washington, 18 dez (EFE).- Sem a pressão de ter de voltar a participar de uma outra eleição e ainda com dois anos pela frente no Governo, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, começou a construir seu legado, com uma histórica mudança de postura em relação a Cuba.
O anúncio do início do restabelecimento das relações entre EUA e Cuba depois de mais de 50 anos de inimizade, marca um novo tempo no governo de Obama, que passa à ação em alguns temas pendentes que defendeu em sua campanha para chegar à Casa Branca, mas que não encontro respaldo no Congresso.
A aproximação a Cuba é um deles, algo que veio sendo delineado desde o princípio de seu mandato, segundo assegurou à Agência Efe Dan Restrepo, principal assessor de Obama para a América Latina entre 2009 e parte de 2012.
“O que aconteceu foi histórico e abre uma nova etapa importante, não só na relação entre Estados Unidos e Cuba, mas também na dos Estados Unidos e Américas, porque elimina do século passado o último traço da política americana perante a região que ainda estava no século passado”, assegurou Restrepo.
Além disso, o ex-assessor considerou que “é uma mostra de que os Estados Unidos são um bom parceiro na região, entendendo que nem todos querem ser parceiros dos Estados Unidos, mas onde existe essa vontade de trabalhar” e de deixar para trás a “política ideológica” que Washington praticou em décadas passadas.
“Quando assumi o cargo, prometi voltar a examinar nossa política com Cuba”, lembrou Obama durante o anúncio das medidas, que incluem a flexibilização das restrições às viagens e o comércio entre EUA e Cuba, assim como às remessas que os cubanos recebem desde o território americano.
A aproximação à ilha, “obviamente vai ser parte do legado do presidente Obama”, assinalou Restrepo, lembrando que o líder tem ainda dois anos nos quais acredita que “haverá mais atividade em todas as frentes”.
O anúncio veio junto com a libertação do americano Alan Gross, detido em 2009 quando trabalhava em um projeto para facilitar o acesso à internet para a comunidade judaica da ilha, cujo caso se interpôs nas tentativas de aproximação por parte do governo dos EUA.
Para Cynthia Arnson, diretora do programa da América Latina no centro Woodrow Wilson, “foi uma das iniciativas mais importantes da política externa dos Estados Unidos em relação à América Latina durante todo seu mandato”, embora ainda não se saiba se a abertura econômica frente à ilha se traduzirá em abertura política, segundo disse à Efe.
Obama passou à ação depois da derrota do Partido Democrata nas eleições legislativas do dia 4 de novembro, nas quais os republicanos recuperaram o controle de ambas as câmaras e aos que desafiou poucos dias depois, com o anúncio de medidas executivas que deterão a deportação de cinco milhões de imigrantes ilegais.
O presidente americano tomou as medidas um ano e meio depois que o Senado, de maioria democrata, aprovou um projeto de Lei que foi bloqueado na Câmara dos Representantes, de maioria republicana, e após reiterados pedidos ao Congresso que adotasse legislação para reparar o sistema migratório de forma definitiva.
David Axelrod, um ex-assessor de alta categoria de Obama, acredita que antes de deixar o cargo o presidente “vai tomar uma lista de problemas espinhosos de longa data e vai fazer tudo o que possa para enfrentá-los”, assegurou a “The New York Times”.
Nas últimas semanas, Obama alcançou outro marco em questão meio ambiental, assunto no qual também discorda com a oposição e uma das prioridades que definiu em seu segundo mandato, ao conseguir um acordo com a China para reduzir as emissões dos gases poluentes, em um encontro bilateral com seu colega, Xi Jinping, que aconteceu em Pequim no último dia 12 de novembro.
Para Alfonso Aguilar, diretor-executivo da Associação Latina para os Princípios Conservadores, “Obama é um presidente em busca desesperada de um legado”.
Aguilar considera que Obama se sente “mais livre”, porque não vai concorrer à reeleição, para tomar estas medidas que “vão gerar muita controvérsia em um Congresso” de maioria republicana a partir de janeiro, ao mesmo tempo questionando sua “autoridade legal” para adotá-las.
“Sem dúvida deixou muitos boquiabertos, víamos um enfraquecimento do embargo (a Cuba), mas chegar a este ponto é incrível”, acrescentou Aguilar.
Depois que outros de seus projetos como a reforma da saúde, conhecida como “Obamacare”, continue em disputa com os estados, o analista considera que Obama procura deixar sua marca “sabendo além disso que não tem uma boa relação com o Congresso e não seria fácil aprovar uma legislação”.
Na lista de assuntos pendentes, está o fechamento do centro de detenção de Guantánamo, na base militar que os EUA têm em Cuba, aonde foram parar os suspeitos de terrorismo após os atentados do dia 11 de setembro.
Fechar essa prisão, onde ainda restam 136 réus, é um compromisso que Obama foi arrastando ao longo de seu mandato e que espera poder cumprir antes do final de 2016. EFE
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.