Obama enfrenta racismo em fim de semana dedicado aos direitos civis
Washington, 6 mar (EFE).- O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou nesta sexta-feira que a discriminação racial detectada na polícia da cidade de Ferguson, no Missouri, onde em agosto um agente branco matou um jovem negro desarmado, não é um caso isolado, e insistiu na necessidade de uma reforma policial.
Obama começou hoje um fim de semana centrado na defesa dos direitos civis, que culminará no sábado com uma viagem a Selma, no Alabama, para comemorar o 50º aniversário da passeata a favor do voto dos negros que foi violentamente reprimida e acabou provocando o debate que culminou na Lei de Direitos Civis (1965).
Esta semana o Departamento de Justiça publicou um relatório sobre a atuação geral da polícia de Ferguson, elaborado depois da morte de Michael Brown, morto com um tiro disparado por um policial, o que gerou semanas de protestos e reabriu o debate sobre o racismo nos Estados Unidos.
“Não acho que seja o que tipicamente acontece em todo o país, mas também não se trata de um incidente isolado”, disse Obama em entrevista à emissora de rádio “Sirius XM”, realizada antes de partir para a Carolina do Sul para participar de um encontro na escola de ensino médio Benedict College, de longa tradição afro-americana.
O presidente afirmou que este assunto requer “uma ação e mobilização coletiva” e que uma reforma policial deve ser uma das principais tarefas do movimento de direitos civis 50 anos depois das manifestações que alcançaram uma mudança.
O Departamento de Justiça concluiu que nos últimos dois anos os cidadãos afro-americanos de Ferguson, 67% da população, foram alvo de 85% das detenções de trânsito, 93% das prisões totais e estiverem presentes em 88% dos casos em que a polícia usou a força.
Obama, que também falou do caso durante a audiência na Carolina do Sul, assinalou que este relatório revela uma situação “opressiva e abusiva” e deixou em evidência um “sistema quebrado e de preconceitos raciais”.
O procurador-geral, Eric Holder, explicou na quarta-feira durante a apresentação do relatório de Ferguson que “a investigação encontrou uma comunidade profundamente polarizada, e onde a profunda desconfiança e a hostilidade frequentemente caracterizam as relações entre a polícia e os moradores da área”.
“Nosso maior objetivo tem que ser evitar circunstâncias parecidas em qualquer outro lugar”, acrescentou Obama.
O relatório foi apresentado no mesmo momento em que o Departamento de Justiça anunciou que não processará Darren Wilson, o policial branco que matou Brown em agosto, por considerar que ele não violou os direitos civis quando disparou contra o jovem de 18 anos.
Desta forma, o Departamento de Justiça arquivou o caso de violação dos direitos civis de Brown, aberto depois de um grande júri decidir em 24 de novembro não acusar criminalmente o policial.
Após essa decisão, milhares de pessoas saíram às ruas em todo o país e Ferguson reviveu os distúrbios raciais que nas duas semanas seguintes à morte de Brown, em 9 de agosto, incendiaram a cidade, com registros de saques, vandalismo e confrontos com a polícia.
A morte de outro afro-americano em Nova York, sufocado por um policial que aplicou um mata-leão enquanto tentava detê-lo e a decisão de não acusar George Zimmerman, o ex-vigilante absolvido pelo assassinato de Trayvon Martin em 2012, reabriram essa ferida na história americana.
Obama liderará no sábado em Selma junto com sua esposa, Michelle, e suas duas filhas, uma passeata para celebrar a liderada há 50 anos pelo líder dos direitos civis Martin Luther King a favor do voto dos negros.
Aquela manifestação entrou para a história como o “Bloody Sunday” (“Domingo sangrento”), por causa da violenta repressão policial que terminou com 50 feridos, mas que provocou um giro nos direitos dos afro-americanos, um legado ainda não terminado, assinalou Obama.
“Selma não se trata só de comemorar o passado, se trata de honrar o legado de quem ajudou a mudar este país através de ações, hoje, aqui e agora”, ressaltou o presidente para dezenas de estudantes. EFE
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