Olhos nos olhos: Chico Buarque, o escritor

  • Por Portal Jovem Pan Online
  • 07/11/2014 12h43
Agência EFE Chico Buarque painel

 

Francisco Buarque de Hollanda, conhecido carinhosamente por todo o mundo como Chico Buarque, é um dos maiores artistas que o Brasil jamais possuiu. Multitalentoso, Chico conseguiu dominar diversas formas de expressão artística, da música até a literatura.

 Sua incursão pela literatura foi – como todos os seus projetos, bem recebido pelo público e pela crítica recebendo até mesmo o Prêmio Jabuti. Agora, o mais célebre filho de Sérgio Buarque de Hollanda, se prepara para lançar no dia 14 de novembro seu oitavo livro, “O irmão alemão”, pela Companhia das Letras. Mas esse não é o único fato que marca o ano de 2014 para o cantor.

 7 décadas de Chico

 O compositor de diversos clássicos da MPB completou em junho deste ano 70 anos de vida, recebendo homenagem de diversos amigos e admiradores. Recentemente, uma dessas homenagens incluiu um show no Parque Ibirapuera, em São Paulo, com Elza Soares, Criolo, Brothers of Brazil, Blubell, Aláfia e muitos outros artistas cantando e reinventando sucessos de Chico.

 O músico ganhou destaque a partir de 1966, quando lançou seu primeiro álbum, o homônimo “Chico Buarque de Hollanda”, e também ganhou o Festival de Música Popular Brasileira, chegando aos antigos toca-discos de todo o País dando início ao sucesso que segue até os dias de hoje. Com o crescimento da repressão da Ditadura Militar naquela época, ele se auto-exilou na Itália junto à mulher Marieta Severo, onde trabalhou contra a repressão compondo e recebendo amigos que já não eram bem-vindos no Brasil, como a própria Elza Soares e o grande jogador de futebol Garrincha.

 

Antes do sucesso

 Antes de se tornar um dos queridinhos dos brasileiros, Chico Buarque chegou a se inscrever no curso de arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanística da Universidade de São Paulo. Logo ele desistiu da ideia e se dedicou à carreira artística, assumindo de vez o bom e tradicional violão, além de cantar composições próprias.

 Boatos dizem que, quando conheceu Elis Regina, ele chegou a oferecer uma canção para a “Pimentinha”, mas a cantora desistiu de gravá-la por ficar impaciente com a timidez e a dificuldade que Chico Buarque tinha para conversar com ela. E, mesmo depois de um sucesso considerável, o artista contou que sua mãe afirmava que só iria confiar no potencial do filho quando ouvisse suas letras na voz de Maria Bethânia – fato que não tardou a acontecer e se repetiu por muitos anos.

 Respeitado nas rádios e, finalmente, dentro de casa, Chico nunca deixou de buscar novos caminhos e supreender seu público.

 

Ousadia além das letras

 

Apesar da timidez, Chico Buarque nunca hesitou em ser ousado, fosse em suas letras ou em seus projetos. Ele já chegou a musicar textos e peças de teatro, criando grandes clássicos dos palcos, aventurando-se até mesmo no universo da literatura infantil. E não apenas o autor já adaptou grandes obras, como alguns de seus trabalhos já foram adaptados para a televisão, cinema e para os palcos.

 Além disso, ele pode ser considerado um artista destemido, pois não se preocupa com o seu esquecimento pelo público. Seja confiança em seu próprio trabalho ou simplesmente um desprendimento (ou maior comprometimento com a própria arte), Chico não se dedica apenas a produzir, mas sempre em propor uma reflexão com sua arte, tanto para a sociedade quanto para uma obra metalinguística. Ele pode passar anos sem lançar um álbum, livro ou espetáculo novo, mas sempre faz a espera valer a pena.

 

De poeta a romancista

 Amigos confirmam: Chico Buarque é um escritor obcecado pelo seu trabalho. Com um alto nível de exigência pela própria escrita, ele chega a se isolar e entrar em seu próprio mundo quando deseja escrever. Ele perde completamente a noção do tempo, chegando a trabalhar por horas – não importando se faz sol, chove ou já é madrugada. Ele escreve, revisa, apaga, reescreve e mantém essa rotina durante todas as páginas, até chegar o ponto final. Chico é o escritor que vive em busca da palavra exata, da sentença que seja bem construída e diga exatamente tudo aquilo que ele pensou em dizer  – ou em esconder.

 

Enquanto o dia 14 de novembro não chega, o autor presenteou os fãs com um teaser, no qual lê um trecho de seu novo romance (veja aqui). O tom confessional em primeira pessoa que a obra possui, aproxima ainda mais o leitor do fato real que desencadeou a inspiração para a história. E esse pai do narrador, não seria um pouco o próprio Chico Buarque, lendo, revisando, reescrevendo, jogando fora e criticando cada obra a qual ele tem contato?

 

Sendo-o ou não, as características do Chico romancista continua lá. A riqueza do vocabulário continua presente nas linhas já divulgadas, em que o autor já demonstra sua capacidade de levar o leitor para dentro da realidade da obra, mergulhando em outras páginas, em outra biblioteca, mas em uma realidade completamente construída do dia a dia, do prosaico. Chico é mestre e com certeza este livro apenas confirmará o que todos já sabem.

 

O que ainda esperar de Chico Buarque?

 

A resposta para essa questão sempre será a mesma: tudo. Chico prova mais uma vez, ao lançar seu novo livro, que seus momentos de silêncio são sempre seguidos por uma intensa participação no cenário artístico brasileiro, seja a repressão ou assuntos mais familiares, como é o caso de “O irmão alemão”, inspirado no meio-irmão que o músico tem e nunca chegou a conhecer.

 Conforme escreveu Caetano Veloso, amigo de Chico, em comemoração aos seus 70 anos, “Chico está em tudo”. E tudo continuará sendo material para Chico construir uma realidade que leve seu leitor, ouvinte ou espectador a outros mundos – sem jamais esquecer, criticar e apresentar de forma crua e inexplicavelmente sensível a vida de milhões de brasileiros e brasileiras.

Por Portal Jovem Pan/Agência Conversion/ Raphael Granucci

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