Omar Hurricane, o cientista que quer criar uma estrela
Teresa Bouza.
Washington, 26 fev (EFE).- Omar Hurricane e sua equipe viraram o centro das atenções das neste mês de fevereiro ao anunciar que produziram energia em um laboratório por meio da fusão nuclear, um marco em seu projeto de “criar uma estrela” e conseguir gerar energia ilimitada.
“Estamos criando uma pequena estrela em laboratório”, disse em entrevista à Agência Efe o cientista do Laboratório Nacional de Lawrence Livermore, financiado pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos e que abriga o laser mais potente do mundo.
Hurricane revelou neste mês na revista “Nature” que tinham conseguido, em suas experiências em setembro e novembro do ano passado, replicar durante uma fração de segundo o poder das estrelas, que propagam energia graças às reações de fusão em seu núcleo, quando os átomos de hidrogênio se transformam em hélio.
A notícia foi recebida com enorme entusiasmo pela imprensa americana, que qualificou a conquista como um grande passo rumo à geração ilimitada de energia.
Hurricane garante que está animado, mas alerta que “resta muito a fazer” antes de conseguir reatores impulsionados por fusão nuclear.
“Fico preocupado que alguns pensem que vamos conseguir reatores a qualquer momento, porque não é assim”, explicou.
Hurricane, que é doutor em Física, salientou que o próximo grande desafio é conseguir a ignição termonuclear, na qual a reação produzida durante a fusão é autossustentável e geraria toda a energia necessária para operar o complexo de 192 raios do laboratório.
As 90 equipes com cerca de mil profissionais envolvidos direta e indiretamente no projeto esperavam ter alcançado a ignição nuclear no ano 2003.
“A fusão nuclear alcançada de forma controlada é algo que as pessoas buscam desde o início da era nuclear na década de 1950, mas é necessário um nível muito alto (…) e isso é um problema, porque a natureza não gosta de criar muita energia em um pequeno volume”, explicou Hurricane.
“É um problema muito complexo. Eu diria que um dos dez problemas científicos mais difíceis”, acrescentou.
Hurricane não se atreve a dizer quando chegarão ao resultado final: “Isto é como quando uma pessoa está escalando uma montanha e não pode ver o pico porque está nublado. A pessoa sabe que quer chegar ao alto, mas sem saber como é o terreno ou onde está exatamente o cume é difícil prever quando o alcançará”.
Uma vez conseguida a ignição, ainda passará um tempo, “provavelmente várias décadas”, até que se alcance a sonhada geração energética.
“A história mostra que desde os primeiros experimentos bem-sucedidos em um laboratório até o desenvolvimento de tecnologia prática transcorre bastante tempo”, lembrou o cientista.
Hurricane disse ainda que a razão pela qual as pessoas falam sobre “geração ilimitada” de energia é porque para alcançar a fusão nuclear é preciso deutério, um isótopo estável do hidrogênio presente na água do mar.
“Se podemos conseguir a fusão nuclear usando deutério está claro que há muito combustível disponível. Além disso, não se produz uma reação química, portanto não são gerados gases estufa”, detalhou.
A abundância de deutério e o que o processo não seja contaminante é o que mantém vivo o interesse da comunidade científica em conseguir a fusão nuclear em um ambiente controlado apesar dos tropeços.
Hurricane, que lidera uma equipe de cerca de 30 pessoas que alcançou a implosão nos experimentos de setembro e novembro, diz que foi seu desejo encontrar uma solução aos problemas energéticos do planeta que o levou a entrar neste terreno.
Conseguir isso, em princípio, não é nada fácil: “A pessoa tem que ter muita paciência, e estar pronto para fracassar e voltar a tentar”, afirmou Hurricane, que diz ter se “acostumado a fracassar”. “É uma qualidade que eu tenho”, concluiu. EFE
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