OMS alerta que controles em aeroportos podem dar falsa sensação de segurança

  • Por Agencia EFE
  • 16/10/2014 14h13

Marta Hurtado.

Genebra, 16 out (EFE). – A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu nesta quinta-feira que os controles de passageiros procedentes de países afetados pela epidemia de ebola podem ser inúteis e inclusive contrários, porque podem dar uma impressão falsa de segurança.

Esse foi o alerta que fez em uma entrevista coletiva hoje Isabelle Nuttall, responsável pela área de “preparação” dos países frente à epidemia de ebola que afeta Guiné, Libéria e Serra Leoa.

“É preciso lembrar que os controles de entrada só detectarão os infectados que apresentem sintomas, não aqueles que talvez possam estar incubando a doença. Estes controles não detectam 100% dos casos, por isso podem dar uma falsa sensação de segurança”, disse.

Ela explicou que o melhor exemplo disso é o caso de Thomas Eric Duncan, o cidadão liberiano que entrou nos Estados Unidos vindo da Libéria e que morreu após ter desenvolvido ebola, porque ao chegar não tinha sintomas.

“Embora tivessem feito controles de entrada não foi detectado”, afirmou a especialista.

França e Grã-Bretanha decidiram nesta semana estabelecer controles médicos de todos os passageiros procedentes de alguns dos países afetados, e hoje a ministra da Saúde espanhola, Ana Mato, se mostrou partidária dessas medidas.

“A OMS não recomenda estes controles”, declarou Isabelle para deixar clara a posição da entidade.

Ela esclareceu que a agência de saúde da ONU não vai se opor as medidas, sempre e quando os controles não impeçam o direito das pessoas assintomáticas de prosseguir com sua viagem. E adiantou que a OMS está elaborando diretrizes sobre a forma como estes controles devem ser feitos.

Contrária aos controles de entrada, a OMS, no entanto, é favorável a que continuem as verificações realizadas na saída do país, e que detectam se os viajantes apresentam algum dos sintomas do ebola, especialmente febre alta.

Tarik Jasarevic, porta-voz da OMS, informou na mesma entrevista coletiva que no aeroporto da Libéria são realizados, aproximadamente, três mil controles sanitários semanais e entre cinco e dez dão positivo.

Isabelle destacou que viajar ao lado de uma pessoa assintomática é seguro, dado que durante o período de incubação o doente não pode transmitir o vírus. Por isso que se o paciente se isola assim que começa a ter os primeiros sintomas e as pessoas que cuidam dele tomam as medidas necessárias, o contágio dificilmente ocorre.

Ao contrário, o momento mais perigoso é quando a pessoa está a ponto de morrer ou já faleceu, porque o contágio é muito fácil e, por isso, é tão importante maximizar as medidas de segurança ao transferir os corpos.

Outro dos aspectos que Isabelle esclareceu é que a OMS está em estreito contato com a Agência Internacional do Transporte Aéreo e disse ter certeza que todas as tripulações do mundo sabem o que fazer para isolar uma pessoa que durante o voo apresente sintomas de ebola.

Ela anunciou que a entidade enviará nos próximos dias duas equipes de especialistas a Costa do Marfim e ao Mali para que avaliem o nível de preparo destes países perante eventuais surtos de ebola. Estes dois Estados são onde há mais risco de que a doença apareça, dado que compartilham grandes fronteiras que ambos os países compartilham com as três nações mais afetadas agora pela epidemia (Guiné, Libéria e Serra Leoa).

“A ideia é que detectem os vazios, os aspectos nos quais não estão suficientemente preparados, e identifiquem como podem melhorar”, explicou a diretora.

As equipes realizarão simulações de eventuais surtos da doença para que as autoridades identifiquem “na prática” se realmente são capazes ou não de enfrentar o vírus. A Costa do Marfim e o Mali são os dois países “prioritários”, mas a OMS identificou outros 13 Estados na África especialmente vulneráveis. Os principais são os que compartilham fronteiras com alguns dos países afetados, como Guiné-Bissau e Senegal.

Os demais são Benin, Burkina Fasso, Camarões, Gâmbia, Gana, Mauritânia, Nigéria, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Sudão do Sul e Togo, que a entidade vigiará de perto.

A atual epidemia já matou 4.493 e infectou quase nove mil, o que a transforma no pior surto desde que o vírus foi descoberto em 1976 na República Democrática do Congo. EFE

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