ONG combate desnutrição e promove esperança no Mali
Raquel de Blas.
Bamaco, 19 abr (EFE).- Fatoumata Saye sofreu uma profunda mudança em sua vida em dois dias. Na quinta-feira, quando chegou a um dos centros de nutrição administrados pela ONG Ação contra a Fome em Bamaco, no Mali, e ninguém entendia seu dialeto dogon, pensou que seu filho de 3 anos morreria em seus braços por causa de desnutrição aguda.
Mas não foi o que aconteceu. Para sua surpresa, um dos voluntários locais que trabalha na instituição é também natural de sua região, conhecida como “o país Dogon”, habitada pela etnia de mesmo nome e declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1989.
Foi ele quem serviu de tradutor entre a mãe e os médicos, que diagnosticaram o menino com desnutrição aguda, que em seu caso se manifesta em forma de “kwashiorkor”, um estado caracterizado pela presença de edemas nas extremidades e a barriga inchada.
Este é só um dos casos conhecidos em primeira mão pela equipe do programa “Carrusel Deportivo”, da rádio espanhola “Cadena SER”, que foi à capital do Mali para gravar o final da segunda edição da campanha solidária “Gols contra a fome”, desenvolvida junto com a ONG para tentar erradicar a fome no mundo.
A missão da ONG no Mali, aberta em 1996, trabalha combinando intervenções de emergência, principalmente no norte do país, com projetos de reabilitação com um enfoque integrado em segurança alimentar, nutrição e fornecimento de água, saneamento e higiene nas comunidades da capital e nas bases de Kita, Gao e Bamamba.
Voluntários batem de porta em porta para medir o perímetro braquial de todas as crianças menores de cinco anos com uma fita impressa com diferentes cores para determinar se sofrem de desnutrição severa (vermelha), estão em risco de sofrer desnutrição (amarela) ou se estão saudáveis (verde).
As crianças desnutridas são levadas ao centro de saúde de referência, onde têm peso e estatura medidos, assim como novamente o perímetro braquial, mas desta vez com uma fita graduada para controlar o avanço de sua recuperação (se for inferior a 125 milímetros, a vida da criança corre perigo).
Enquanto médicos e enfermeiros fazem a avaliação clínica, as crianças passam por um exame de apetite, e as que não passam ou apresentam complicações médicas, são transferidas a um centro de estabilização no qual ficam internadas (cerca de 20% dos casos).
Segundo explicou à Efe a doutora Coulibaly, chefe do centro de saúde Senou, na zona norte de Bamaco, neste ano foi multiplicado por três o número de casos de desnutrição em comparação com o ano passado.
Isso se deve, segundo ela, à antecipação em dois meses do “soudure”, período de escassez de alimentos que começa quando são esgotadas as reservas de alimentos da colheita principal (realizada tradicionalmente por volta de junho) e dura até o início da seguinte (setembro).
Os casos de desnutrição aguda como o do filho de Fatoumata são tratados em Ureni, um hospital do qual dependem os outros postos de saúde e no qual esta mãe permanece “com muita dignidade” e “agradecida” ao pé da cama na qual o menino se recupera. EFE
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