Ônibus vermelhos de Londres: da cidade ao front da I Guerra Mundial
Alejandra Olcese.
Londres, 23 mai (EFE).- Os ônibus de dois andares de Londres, carregados de munição, soldados e, até mesmo, pombos-correios, foram imprescindíveis no front durante a Primeira Guerra Mundial, como lembra uma exposição no Museu do Transporte da cidade.
Para marcar o centenário da disputa (1914-1918), o museu montou o “Goodbye Piccadilly”. A mostra conta a função dos 1.185 ônibus que a Inglaterra enviou ao front durante o conflito e como eles chegaram a ser considerados hoje “memoriais andantes”, conforme explicou à Agência Efe a curadora da exposição, Caroline McVay.
Pintados de verde militar, para passar mais despercebidos do que com o vermelho original, os ônibus urbanos da capital britânica foram utilizados para levar soldados, munição, remédios e alimentos ao front de guerra. Desse total, 75% deles foram atacados com bombas e nunca retornaram às ruas.
Outra função que eles tiveram na guerra foi a de transportar pombos-correios, utilizados para comunicar de forma segura as posições do inimigo.
A joia da exposição é o modelo Ole Bill, de 1911. O velho ônibus foi restaurado e novamente pintado de vermelho ao retornar da guerra. Circulou por algum tempo pela capital britânica e, em 1920, rodou pela última vez em um desfile para celebrar o armistício.
Com capacidade para 34 pessoas, velocidade de 12 milhas (19,3 quilômetros) por hora e 3,3 metros de altura, apenas um metro a menos do que os atuais, esse veículo chama atenção entre as fotos, cartazes e documentos que integram a parte mais teórica da mostra.
Trata-se do modelo mais utilizado na chamada Grande Guerra e o primeiro produzido em massa nas fábricas, conforme explicou à Efe Tim Shields, diretor de restauração dos veículos.
“Eles não estavam preparados para a lama nem para o frio. Tinham sido desenhados para a cidade, mas mesmo assim cumpriram sua função”, explicou Shields.
Os ônibus cruzavam o Canal da Mancha e, logo após chegar à França, eram pintados de verde. Costumavam circular à noite, mas, mesmo assim, o vermelho era muito chamativo e podia atrair os inimigos, explicou.
“Goodbye Piccadilly”, título resgatado de uma canção entoada pelos soldados britânicos nas trincheiras, lembra também o papel da mulher durante a guerra e como elas começaram a trabalhar no setor do transporte.
Embora até os anos 70 elas fossem proibidas de dirigir, as britânicas começaram a trabalhar nos ônibus substituindo os homens que foram à guerra e, vestidas com um uniforme azul marinho, se encarregavam de vender bilhetes. Um exemplar desse uniforme se destaca na vitrine do museu, ao lado de fotos de Ellen Bulfield, a primeira cobradora de ônibus de Londres.
As duas primeiras salas do museu, situado na popular Praça de Covent Garden, oferecem, além disso, um percurso cronológico pela Primeira Guerra Mundial.
A visita começa com o entusiasmo que predominava na sociedade britânica no início do conflito, quando a “sensação geral era que a guerra terminaria antes do Natal de 1914”, e muitos cidadãos se apresentaram como voluntários, contou Caroline.
No entanto, a guerra durou quatro anos, e isso fez com que a sociedade buscasse fugir através do entretenimento, “no cinema, teatro ou nos pubs do Soho”, explicou.
A exposição termina com um documentário que compara o papel do transporte na época da guerra e o que ele tem hoje. O vídeo mostra discursos de militares britânicos no Afeganistão.
Uma parede com papéis em branco pendurados encerra o percurso da exposição, que ficará aberta até 8 de março de 2015, e convida os visitantes de mais idade a apresentar seus depoimentos sobre como viveram a Grande Guerra. EFE
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