ONU analisa riscos humanos e de segurança causados pela guerra na Síria
Nações Unidas, 26 fev (EFE).- A ONU destrinchou nesta quinta-feira a tragédia humana ligada à guerra civil na Síria, analisando os riscos de um conflito que está se estendendo além de suas fronteiras e a dramática falta de fundos para auxiliar os milhões de refugiados.
O tema foi analisado durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU convocada para revisar a fundo uma situação a cada dia mais dramática e que está afetando de maneira especial os países que compartilham suas fronteiras com a Síria.
“A Turquia se transformou agora no país com o maior número de refugiados registrados no mundo todo”, afirmou na sessão do conselho o alto comissário da ONU para os refugiados, António Guterres.
O conflito armado na Síria gerou 3,8 milhões de refugiados, que se somam na região a outros dois milhões de deslocados iraquianos pelo conflito armado em seu país.
Isso sem contar, segundo cálculos da ONU, as mais de 200.000 pessoas que morreram em um conflito armado que tem sua origem nos protestos políticos que explodiram em 2011 no calor das revoltas políticas no Oriente Médio.
Em sua exposição, Guterres lembrou que há dois anos, na mesma sala na qual falou hoje, havia afirmado que o conflito sírio ameaçava se transformar na “pior crise humanitária” na história recente e punha em risco a paz em todo Oriente Médio.
“Hoje devemos assumir o fato de que isso é exatamente o que aconteceu”, acrescentou.
Guterres baseou sua explanação em números dramáticos, alguns já conhecidos, como o fato de que desde 2011 cerca de 20.000 combatentes estrangeiros procedentes de 50 países viajaram à Síria e ao Iraque para somar-se aos diferentes grupos que lutam nesses dois países.
No Líbano, lembrou Guterres, um terço de sua população é palestina ou síria. Nessa nação e na Jordânia o aumento em seu número de habitantes foi igual nos últimos anos ao que costuma haver em décadas.
O alto comissário também advertiu que cerca de dois milhões de refugiados sírios menores de 18 anos “estão em risco de se transformar em uma geração perdida”, enquanto mais de 100.000 crianças nascidas no exílio “podem ser apátridas sob as leis sírias”.
“Se isto não for resolvido adequadamente, esta crise terá enormes consequências para o futuro da Síria e dos países vizinhos”, alertou.
Guterres também falou do drama ligado ao fluxo de refugiados sírios que tentam atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa, e lembrou que neste ano pelo menos 370 pessoas morreram ao fazer essa travessia.
“Isso significa que se afogou uma pessoa para cada 20 que chegou a seu destino”, afirmou.
Por sua parte, a subsecretária-geral adjunta da ONU para Assuntos Humanitários, Kyung-wha Kang, pediu que a comunidade internacional encontre uma solução para o fato de que as partes no conflito sírio continuam interferindo no envio de assistência para os refugiados.
Mas também lamentou a falta de fundos internacionais para atender essa crise, e lembrou que, no fechamento do ano passado, o plano para dar reposta ao drama humano criado pelo conflito sírio só tinha recebido 48% do financiamento requerido.
“Pedimos aos membros desse conselho que mostrem liderança para terminar a guerra bárbara e brutal na Síria”, declarou a diplomata sul-coreana. “Estamos ficando sem palavras para descrever as terríveis consequências humanitárias”, completou.
Por sua parte, representantes dos países-membros do Conselho e das nações afetadas ressaltaram a responsabilidade do regime de Bashar al Assad, mas também que a ONU não conseguiu lidar com essa guerra de maneira adequada.
“O Conselho de Segurança falhou em encontrar uma solução política na Síria”, lamentou o representante do Líbano na ONU, Nawaf Salam. EFE
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