ONU e Hollywood foram os grandes inimigos da Coreia do Norte em 2014

  • Por Agencia EFE
  • 22/12/2014 18h10

Atahualpa Amerise.

Seul, 22 dez (EFE).- A ONU e Hollywood foram em 2014 alvo da ira de uma Coreia do Norte cada vez mais pressionada na comunidade internacional por causa das violações de direitos humanos e do polêmico ataque hacker contra a Sony Pictures por um filme que ridiculariza o líder Kim Jong-un.

Levar ao Tribunal Penal Internacional (TPI) os “crimes contra a Humanidade” dos norte-coreanos é um longo e difícil processo cujos primeiros passos foram dados este ano, depois de em março o comitê de direitos humanos da ONU publicar o mais extenso relatório até o momento sobre o país.

Extermínio, assassinato, escravidão, desaparecimento forçado, execuções sumárias, torturas e violência sexual, além da detenção de 120 mil prisioneiros políticos em campos de trabalho, são só alguns dos crimes que o relatório atribui ao Estado.

A iniciativa para julgar a Coreia do Norte em Haia chegou em forma de uma resolução não vinculativa apresentada pela UE e pelo Japão e adotada formalmente em dezembro pela Assembleia Geral da ONU, enquanto o Conselho de Segurança abriu pela primeira vez esta semana o debate sobre o tema.

Esse órgão é o único com poder para enviar o caso ao TPI, o que já é complicado por si só já que se dá por certo que China e Rússia, os dois membros permanentes do Conselho de Segurança próximos a Pyongyang, utilizarão seu direito a veto para bloquear a decisão.

Durante todo o processo, a Coreia do Norte protestou pela resolução, que considera um complô dos EUA para derrubar seu regime e inclusive ameaçou um teste nuclear.

A Coreia do Norte se preocupa especialmente com a possibilidade de a ONU responsabilizar Kim Jong-un pelos abusos contra a população. O “líder supremo” sucedeu o pai com apenas 31 anos (segundo estimativas, pois a idade é desconhecida oficialmente) depois da morte de Kim Jong-il em dezembro de 2011.

O jovem Kim, novo objeto de culto em um regime caracterizado pela adoração à personalidade de seus líderes, também foi o protagonista principal do primeiro caso de autocensura de um filme em Hollywood por ameaças terroristas.

“A entrevista”, comédia protagonizada por Seth Rogen e James Franco sobre um complô para acabar com a vida do ditador norte-coreano, teve a estreia cancelada depois de um ataque hacker à Sony Pictures Entertainment.

O grupo de hackers autodenominado “Guardians of Peace” (Guardiães da Paz) vazou cinco filmes do estúdio, além de milhares de e-mails e dados dos funcionários da empresa, além de dirigir ameaças terroristas às salas que ousassem projetar o filme.

O caso alcançou tal dimensão que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, cogitou a possibilidade de incluir a Coreia do Norte de novo na lista de patrocinadores do terrorismo, depois de o FBI responsabilizar o país pelo ataque.

Embora tenha considerado a produção de Hollywood um “ato de guerra”, Pyongyang negou qualquer envolvimento e inclusive ameaçou os EUA com um conflito armado por suas “falsas acusações”.

As relações entre as duas Coreias passaram este ano para segundo plano na cena internacional após uma perigosa escalada de tensão vivida em 2013.

Norte e Sul tentaram reparar seus laços e recuperar os contatos de alto nível em várias ocasiões, embora todos os avanços tenham sido frustrados pelos frequentes atritos entre os dois países, que continuam tecnicamente enfrentados desde o armistício que pôs fim à Guerra da Coreia (1950-53).

O único resultado tangível foi a emotiva reunião de famílias separadas, a primeira em quatro anos, que aconteceu em fevereiro e que permitiu a parentes dos lados da fronteira desfrutar entre lágrimas de algumas horas juntos após décadas de separação.

A visita inesperada dos considerados número dois e três do regime norte-coreano, Hwang Pyong-sob e Choe ryong-hae, em outubro à cidade de Incheon, no Sul, para os Jogos Asiáticos e reuniões com autoridades de Seul foi um dos destaques deste ano.

A visita chegou em plena incerteza pela misteriosa ausência do líder Kim Jong-um de vida pública, que durou 40 dias até reaparecer em meados de outubro apoiado em um bastão por causa de uma misteriosa muleta, o que foi alvo de diversas especulações. EFE

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