ONU pede que América Latina não recue na luta contra Aids apesar de avanços

  • Por Agencia EFE
  • 02/04/2014 18h46

Quito, 2 abr (EFE).- O diretor para a América Latina do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), César Núñez, pediu nesta quarta-feira, em Quito, para que não seja baixada a guarda na luta contra a Aids apesar de os avanços conseguidos na região, onde cerca de 1,6 milhão de pessoas vivem com a doença.

“Não podemos entrar em complacência, como o que aconteceu com o tema da tuberculose nos anos 70. Tudo o que avançamos até agora na luta contra o vírus HIV não pode ser jogado no lixo, não os desprezemos porque nos sentimos comprazidos que alcançamos um nível de cobertura nas Américas, que é o maior de todo o mundo”, disse.

Ele apontou que “a cobertura média é de 72%”, e assinalou que no Equador, por exemplo, há 14 mil pessoas em tratamento, o que representa 76% das pessoas que necessitam. No país andino o total de pessoas que vivem com HIV chega a 52 mil. Já no Brasil há cerca de 800 mil portadores do vírus HIV, enquanto no México há, aproximadamente, 200 mil.

“A América Latina, em termos de tratamento, acho que vai por um bom caminho. Minha recomendação é intensificar essa entrega de tratamentos através da maior detecção de novas infecções”, disse.

Ele lembrou que após o sucesso na luta contra a tuberculose, nos anos 70, ocorreu “um momento de complacência”, que ele rotulou como “um grande erro”.

“Atualmente, a tuberculose é chamada uma doença infecciosa reemergente. Ela não só voltou com a força que costumava ter naqueles anos, mas, atualmente, temos uma tuberculose resistente a múltiplas drogas que existiam no mundo”, lamentou em entrevista à Agência Efe.

Segundo dados de 2012 da Unaids, das 1,6 milhão de pessoas vivem com HIV na América Latina, 175 mil são jovens com idades entre 15 e 24 anos e 40 mil têm menos de 15 anos. Segundo a organização, de 2001 a 2012, os casos de novas infecções por HIV caíram em 9%.

Núñez destacou “a prevenção” como um dos temas pendentes na luta contra o HIV. Para ele, o trabalho de prevenção deve envolver vários setores para passar mensagens, sobretudo aos jovens, e definiu a discriminação e o estigma como os maiores obstáculos.

“Ainda hoje, mais de 30 anos depois da epidemia no mundo, há estigma e discriminação com eles. Há um temor infundado e rejeição”, disse.

Núñez participa em Quito de uma reunião sobre o novo modelo de financiamento do Fundo Global desenhado para realizar investimentos mais estratégicos que permitam obter a máxima repercussão na luta contra à Aids, a tuberculose e a malária.

O novo fundo terá US$12 bilhões para todo o mundo nos próximos três anos. Desse total, US$600 milhões serão destinados à luta contra as três epidemias na América Latina e no Caribe.

Silvio Martinelli, chefe regional do Fundo Global, assegurou à Agência Efe que a América Latina está “muito melhor que outras regiões do mundo” em temas como combate à Aids quanto algumas africanas e outras do Caribe.

Núñez concordou e declarou que ainda que as conquistas sejam grandes, não se deve relaxar as ações: “Isso é o pior que se pode fazer, pois vamos perder o conseguido e voltar a uma situação de emergência”, advertiu.

Para ele, os trabalhos devem continuar. Ele destacou que agora um dos desafios é enfocar a luta contra a epidemia em setores específicos como em homens que mantêm relações sexuais com homens, grupos de transexuais e trabalhadoras do sexo.

Além disso, apontou que é preciso incentivar a prevenção mais direta com a distribuição de preservativos, informar sobre a importância da realização de testes de detecção da doença, assim como aumentar a comunicação sobre o tema nas famílias.

Ele considerou que agora há uma “oportunidade histórica” para impedir as epidemias, pois se pode construir “sobre conquistas muito importantes”. EFE

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